Apesar de ter capacidade para 150 pessoas, o Abrigo de Paciência, como o espaço é conhecido, possui 463 acolhidos. Em fevereiro, quando houve decisão judicial que impedia novos recolhimentos na unidade, havia 440 pessoas. Na última quinta-feira, 6, um grupo de promotores e especialistas do Grupo de Apoio Técnico Especializado do MPRJ flagrou a chegada de cinco vans com um total de 26 moradores de rua que relataram o uso da força pelos funcionários municipais. Além do déficit de vagas, também faltam cerca de 100 profissionais técnicos para atender aos internos.
Em Paciência, os internos compartilham lâminas de barbear, o que facilita a transmissão de doenças e até mesmo do vírus HIV. Pacientes diagnosticados com tuberculose têm o tratamento constantemente interrompido pela falta de medicamentos e convivem com outros internos em áreas pouco arejadas.
A prefeitura do Rio também descumpre o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) assinado em maio de 2012 que, entre outras medidas, previa a substituição de todos os colchões da unidade que estavam infestados de percevejos. A equipe do MPRJ encontrou 300 colchões novos dentro de um posto de saúde desativado que fica no mesmo terreno do abrigo e atualmente funciona como depósito.
Os colchões velhos continuam em uso, portanto, "não sabemos se os novos foram adquiridos em cumprimento da decisão judicial ou para acolher mais pessoas", avaliou a promotora Patrícia Vilela, coordenadora do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça da Cidadania durante seminário sobre a violação dos direitos da população de rua nas cidades sede da Copa do Mundo, realizado na sede do MPRJ, nesta terça-feira, 10.
"As deficiências são tão grandes que ali (o abrigo de Paciência) se tornou um depósito de gente. O município não oferece uma política fortalecida de trabalho para que essas pessoas saiam da rua".
Em nota, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social (SMDS) negou a higienização e afirmou que os acolhimentos são voluntários. No entanto, não comentou as denúncias de superlotação e demais irregularidades enumeradas pelo MPRJ como insalubridade e déficit de funcionários..