Desde o dia 21 do mês passado, ativistas - a maioria estudantes e profissionais liberais - ocupavam a área onde um consórcio de empreiteiras - integrado pela Moura Dubeux, Queiroz Galvão, Ara Empreendimentos e GL Empreendimentos - pretende implantar o projeto imobiliário Novo Recife, com investimento de R$ 800 milhões. A obra está embargada judicialmente.
O clima de tensão e confrontos se estendeu por todo o dia no local. Depois de retirados, os ativistas se mantiveram nas proximidades e no final da manhã tentaram impedir a entrada de tratores e funcionários do consórcio no terreno. Houve nova ação policial, com bombas de gás lacrimogêneo e de borracha. A assessoria do consórcio informou que o objetivo era o de colocar tapumes e fechar aberturas do muro que circunda o terreno de 1,3 quilômetro de extensão, a fim de evitar nova invasão. Acionada pelo MPF, a Polícia Federal foi ao local, para informar que nada poderia ser feito na área, que se encontra sob embargo. Um engenheiro do consórcio foi à sede da PF prestar esclarecimentos.
À tarde, houve movimentação para fechar a avenida José Estelita no sentido centro-subúrbio.
A situação acalmou no início da noite, de acordo com a PM. O local continuava sendo policiado. Os ativistas pretendem montar acampamento do lado de fora da área e planejam um protesto nesta sexta-feira, 20.
Em negociação
A alteração do projeto está sendo negociada sob mediação da prefeitura de Recife, depois de mobilização do grupo Direitos Urbanos, via redes sociais, sob o lema #Ocupe Estelita. Também desde o dia 21 o consórcio está impedido de demolir ou construir na área de 101 mil metros quadrados, por decisão judicial, depois que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) conseguiu embargar o início da demolição de antigos galpões de açúcar localizados no terreno.
Na nota de repúdio, o MPF em Pernambuco destacou que a reintegração ocorreu "sem conhecimento prévio do Ministério Público e dos representantes do movimento de ocupação", com o descumprimento de "todos os protocolos de execução de ordens de reintegração de posse das Secretarias estaduais de Defesa Social e de Direitos Humanos, que visam à desocupação pacífica e à garantia da integridade física dos ocupantes".
Prisões
Quatro foram detidos por "desobediência, incitação à violência e ameaça aos policiais" durante a reintegração. Foram elas a arquiteta Cristina Lino Gouveia, de 33 anos, os estudantes da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o peruano Librian Shiozawa e o argentino Milton Ivan Petruczok, além de Jordi Ricardo Souza da Hora.
À tarde, mais duas prisões: Manoela de Barros Umbertino Guerra, por ter abandonado seu veículo na rua, desobedecendo ordem policial, e Davidson Pereira de Aguiar, 19 anos, por portar, de acordo com a PM, duas garrafas de coquetel molotov. Depois de prestarem depoimento todos foram liberados.
Anistia Internacional
No seu site na Internet, a Anistia Internacional pediu "investigação imediata dos abusos cometidos pela Polícia Militar", ao condenar "o uso excessivo da força e de das chamadas armas menos letais (balas de borracha, gás lacrimogêneo, spray de pimenta)" utilizadas para desocupar o Cais José Estelita..