Rio, 19 - Os dois cabos da Polícia Militar do Rio de Janeiro suspeitos de terem executado um adolescente de 14 anos com um tiro de fuzil na cabeça, no último dia 11, negam o crime. Eles afirmam que levaram o jovem e um amigo dele ao Morro do Sumaré, na zona norte do Rio, porque os adolescentes contaram que moravam ali.
"Eles viram um dos adolescentes arrancar um cordão do pescoço de uma pessoa e abordaram os dois meninos, na (avenida) Presidente Vargas. Como não acharam o produto do roubo, não os levaram à delegacia. Perguntaram onde os adolescentes moravam e eles disseram que era no Sumaré, então levaram os dois até lá", conta o advogado Marcelo Bruner, que representa os dois cabos. Fábio Magalhães Ferreira, de 35 anos, e Vinícius Lima Vieira, de 32, tiveram a prisão temporária por 30 dias decretada na quarta-feira, 18. Estão presos na Unidade Prisional exclusiva para policiais militares.
Mateus Alves dos Santos, de 14 anos, e um outro adolescente foram detidos no dia 11 acusados de praticar um assalto na Avenida Presidente Vargas, no Centro. Os garotos não foram levados para a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente, como deve ser feito nesses casos.
Segundo o colega de Mateus, eles foram levados para o Morro do Sumaré, uma área de floresta dentro da cidade, baleados com tiros de fuzil e arremessados para baixo. O menino que sobreviveu foi atingido nas costas e na perna e se fingiu de morto até que os policiais fossem embora. Depois fugiu pela mata até o vizinho Morro do Turano e dali foi para o Complexo da Maré, na zona norte, onde mora.
O caso foi denunciado à Corregedoria da Polícia Militar pelo pai de Mateus. O carro usado pelos PMs tem câmera interna, e as imagens mostram os adolescentes entrando no carro, e os policiais voltando do morro sozinhos.
Os cabos foram detidos administrativamente na noite de terça-feira, 17, e prestaram depoimento ao delegado Rivaldo Barbosa, da Divisão de Homicídios.
"Não houve crime nenhum. Ainda não vi o inquérito, só as imagens (gravadas pela câmera interna do carro da PM). Na próxima semana vou ter acesso ao inquérito e pedirei à Justiça que libere meus clientes", disse Bruner. Segundo o advogado, Fábio trabalha na PM há 11 anos e Vinícius, há 9, e nunca foram alvo de nenhuma reclamação. Na versão de Bruner, os adolescentes mentiram aos PMs quando disseram que moravam no Sumaré, já que moram na Maré.