Começou nesta terça-feira (1º), no Fórum Criminal da Barra Funda, na capital paulista, o julgamento de quatro pessoas, apontadas como skinheads, por tentativa de homicídio de outras quatro que participavam de um evento em repúdio à homofobia e ao racismo, no centro da cidade, em 26 de fevereiro de 2011.
O promotor Fernando César Bolque destacou que a acusação estará focada nas provas existentes no processo, a exemplo do que narraram as testemunhas, as vítimas e, sobretudo, o que pode ser observado nas imagens feitas pela câmera de um terminal de ônibus próximo ao local onde foi registrada a agressão. “As imagens são bastante claras e não tem como os acusados negarem que estavam em posse desses objetos que trazem menção a símbolos nazistas”, disse, antes de iniciar a sessão. O processo aponta, entre os itens apreendidos, espingarda, facão, canivetes e soco-inglês.
Os acusados são Jorge Gabriel Gonzales, Milton Gonçalves do Nascimento Júnior, que na época tinham 20 anos; Raphael Luiz Dierings, então com 18, e Rogério Moreira, 23. Eles foram presos no local. Um adolescente de 17 anos foi apreendido e cumpriu medida socioeducativa na Fundação Casa. Além dos réus e das quatro vítimas, devem ser ouvidas 18 testemunhas.
De acordo com a organização não governamental Casarão Brasil, que atua em defesa dos direitos da população LGBT e acompanha o caso, uma das vítimas foi atacada a quase 500 metros do local do evento. Segundo a entidade, eles atacavam as vítimas dizendo “menos um macaco”. Eles destacam que um rapaz foi ferido de forma profunda no braço, outro foi esfaqueado no abdômen e um terceiro foi esfaqueado na cabeça. “Eles gritavam: vamos arrancar a perna dele então fui atingido com um taco na cabeça e desmaiei”, disse uma das vítimas em uma nota da organização.
Na entrada do fórum, representantes do movimento Anarcopunk colocaram faixas pedindo respeito à diversidade. “Existem ações que são crimes de ódio que são passadas como crimes de gangues ou rixas de rua, mas que, na verdade, são grupos organizados. Eles treinam artes marciais para isso, usam armas brancas para esse tipo de ação para machucar e até matar pessoas nas ruas e pessoas específicas: mulheres, homossexuais, travestis, pessoas em situação de rua, além de punks, anarquistas”, declarou um jovem, que não quis se identificar. O grupo Anarcopunk está à frente das jornadas antifacistas.
O promotor explicou que não foi incluído na denúncia o crime referente à discriminação racial. Ele destaca, no entanto, que há o registro de uma motivação fútil decorrente dessa situação, tendo em vista que eles estavam em uma reunião de um movimento contra o fascismo e por força disso acabaram se tornando vítimas. “É óbvio que há essa motivação, acredito que o júri se sinta mais sensibilizado por conta disso, dessa intolerância racial. O Brasil é um país multicultural, miscigenado e, acredito, não admite esse tipo de comportamento”, declarou..