Questionado nesta segunda-feira, 14, sobre as agressões a manifestantes e jornalistas que cobriam o protesto de domingo, dia 13, durante a final da Copa do Mundo, o comando da Polícia Militar do Rio informou no início da noite que determinou a abertura de inquérito para "apurar os atos de violência de policiais contra cidadãos durante a manifestação".
Pelo menos 14 cinegrafistas e fotógrafos foram atacados por PMs na praça Saens Peña, na Tijuca, zona norte, quando registravam a repressão a ativistas. Em nota, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) afirmou que "agressões deliberadas contra comunicadores configuram atos diretos de censura e não podem ser tolerados".
O posicionamento da PM mudou ao longo do dia. À tarde, quando o Estado perguntou sobre a abertura de inquérito policial-militar, a corporação enviou o mesmo posicionamento da véspera, informando apenas que "todas as denúncias relativas a excesso na ação de PMs estão sendo encaminhadas à Corregedoria e apuradas". À noite, o tom era outro: "O Comando esclarece que repudia estes atos revelados por imagens de cinegrafistas amadores".
A PM, entretanto, afirmou que será mantido no cargo o coronel Luiz Henrique Marinho, comandante do 5.º Batalhão, responsável pelo policiamento no entorno do Maracanã no domingo. A reportagem pediu uma entrevista com o coronel, que não foi autorizada.
Diversas imagens e vídeos divulgados em redes sociais mostram ataques deliberados a profissionais da imprensa. Procurados pela reportagem, o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) e o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, recusaram-se a comentar as agressões.
A Abraji contabilizou 38 casos de prisões, agressões e detenções envolvendo 36 profissionais da comunicação durante a cobertura de manifestações no período da Copa. "Seguindo o padrão observado desde junho do ano passado, a maioria das violações (89%) partiu da polícia. Dentre estas, 52% foram intencionais - ou seja, o comunicador se identificou como profissional a serviço ou portava identificação à vista. As demais agressões partiram de manifestantes e de seguranças privados da Fifa", relata a entidade.
O protesto de domingo no Rio concentrou o maior número de ocorrências. De acordo com a Abraji, as agressões foram comprovadamente propositais em 8 dos 14 casos - nos outros, não é possível afirmar. O Sindicato dos Jornalistas do Rio divulgou um balanço com 15 nomes, mas a Abraji não considerou em seu relatório o caso de Gizele Martins (que teve uma crise de asma por inalação de gás lacrimogêneo) por entender que não houve direcionamento específico contra a jornalista.
Em nota sobre o cerco policial de domingo, a ONG Justiça Global afirmou que "o Estado de Exceção tem se tornado cada vez mais comum". Para a Abraji, os casos "evidenciam o uso desproporcional de força por parte da polícia durante manifestações e o desrespeito ao direito fundamental da liberdade de expressão".