Jornal Estado de Minas

Manifestante Sininho teme ser indiciada em Minas

Apontada como líder das manifestações, jovem admite, segundo investigações da polícia do Rio, que estado tem provas contra ela

Guilherme Paranaiba

Ativista Elisa Quadros - Foto: Fernando Frazão/ABr - 11/2/14

Enquanto as autoridades mineiras negam a participação da ativista Elisa Quadros Pinto Sanzi, a Sininho, em atos de vandalismo ocorridos em Belo Horizonte durante as copas das Confederações e do Mundo, um relatório da Polícia Civil do Rio de Janeiro mostra que ela teme ser denunciada em Minas Gerais por formação de quadrilha. Sininho é uma das 23 pessoas indiciadas pela polícia carioca por atos violentos na capital fluminense e é apontada como líder do grupo de ativistas. Ela, inclusive, com base em escutas telefônicas obtidas pelos investigadores cariocas, diz, em conversa com o padrasto, não estar preocupada com a investigação do Rio: “Estou mais preocupada com a de Minas. Lá, eles já têm provas para me indiciar por formação de quadrilha”.

Responsável por 10 inquéritos gerados a partir dos atos de vandalismo nos dias 12 e 14 do mês passado, em Belo Horizonte, a delegada Gislaine de Oliveira Rios disse não ter encontrado nenhum indício da participação de Sininho na violência registrada no entorno da Praça da Liberdade, Região Centro-Sul da capital, em 12 de junho, nem nos fatos que chegaram até a polícia em 14 de junho, quando manifestantes foram cercados pela Polícia Militar na Praça Sete. Da mesma forma respondeu, via assessoria de imprensa, o delegado Hugo e Silva, que participa da força-tarefa montada pela Polícia Civil de BH para apurar a violência no meio das manifestações.

O promotor Marcelo Mattar, coordenador das promotorias criminais do Ministério Público de Minas Gerais, afirmou que o MP também desconhece esse tipo de relação. Segundo a assessoria de imprensa do MP do Rio de Janeiro, o promotor Luís Otávio Figueira Lopes, da 26ª Promotoria de Investigação, informou que a ligação de ativistas do Rio com manifestantes de outras capitais (BH, São Paulo e Porto Alegre) não foi investigada profundamente. A reportagem procurou ainda a Polícia Civil do Rio, que não quis dar declarações.
“Dos 10 inquéritos, três já foram relatados, com quatro pessoas indiciadas. Ainda estamos trabalhando em outros sete”, diz a delegada Gislaine de Oliveira.

A pernambucana Patrícia Dantas Dias, presa em flagrante após ter participado da depredação de uma viatura da Polícia Civil na sede do Departamento de Trânsito de Minas Gerais (Detran-MG) em 12 de junho, foi indiciada por dano ao patrimônio e de associação para o crime. Ela responde ao processo em liberdade e está sendo monitorada pela Justiça com uma tornozeleira eletrônica. Karine Kênia Soares da Silva Melo e Fernando Senhorinha Rinaldi também vão responder por dano ao patrimônio e associação para o crime, além de corrupção de menores, já que eles agiram em companhia de adolescentes, na Praça Raul Soares, em 14 de junho, quando tentaram depredar um coletivo. Ambos estão soltos, sendo que Karine usa tornozeleira. Preso no mesmo dia portando coquetel molotov, máscara e touca ninja, Igor Daniel de Aguiar Borges foi indiciado por porte de artefato explosivo e é mais um que está livre para se defender, mas também é vigiado pela tornozeleira.

Hierarquia rígida

Relatório final do inquérito da Polícia Civil sobre atos de violência em manifestações na capital fluminense mostra que o grupo investigado tem uma hierarquia rígida e organizada. Há comissões voltadas para o planejamento de ataques, confecção e distribuição de bombas, coquetéis molotov e ouriços (peças feitas com pedaços de vergalhões), que seriam lançados nas ruas para ferir PMs e furar os pneus das patrulhas. O documento do inquérito – que resultou na Operação Fire Wall – levou a Justiça a decretar, na sexta-feira, a prisão preventiva de 23 pessoas, sendo que cinco já estavam presas, entre elas Sininho e os dois acusados pela morte do cinegrafista Santiago Andrade, Fábio Raposo Barbosa e Caio Silva Rangel, e 18 estão foragidas (leia texto abaixo). No domingo, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro negou habeas corpus a todos os suspeitos.

De acordo com o documento, uma ação de guerrilha, com uso de bombas de fragmentação, coquetéis molotov e ouriços, estava sendo articulada para marcar a final da Copa do Mundo, em 13 de julho, no Maracanã. O ato vinha sendo preparado para marcar o “Junho negro”. O trabalho da polícia aponta Sininho como a principal articuladora do grupo, que teria à frente da comissão de organização a professora universitária de filosofia Camila Jourdan, também presa.

De acordo com conversas captadas, Camila participou da confecção de coquetéis molotov e ouriços. Num diálogo de 28 de junho passado, ela não esconde a revolta com o fato de PMs terem apreendido 178 ouriços e 20 bombas escondidos numa bolsa na Praça Saens Peña, na Tijuca. O material seria usado num protesto naquela tarde. “Foram três dias de trabalho jogados fora. Perdemos tudo, é isso?”, pergunta Camila ao interlocutor. (Com agências).

Uruguai nega asilo a advogada

O Consulado do Uruguai no Rio negou ontem o pedido de asilo político no país feito pela advogada Eloísa Samy e outros dois ativistas, Davi Paixão e Camila Nascimento, segundo confirmou a deputada deputada Janira Rocha (PSOL). Eles chegaram pela manhã ao edifício, que fica em Botafogo, na Zona Sul, para aguardar uma resposta. Policiais da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI) ficaram na porta da instituição para cumprir um mandado de prisão contra a advogada, mas deixaram o local por volta de 17h. Dois agentes chegaram a tentar entrar no prédio, mas foram impedidos pelas autoridades uruguaias. Do lado de fora, algumas pessoas protestaram em favor dos ativistas.


Segundo o advogado do Grupo Coletivo de Advogados, Rodrigo Mondego, eles fizeram o pedido de asilo por medo. Segundo Janira, a cônsul Myrian Chala explicou que o governo uruguaio tem um tratado com o governo brasileiro, respeita o estado democrático de direito e não vê razão para um asilo político. A embaixada pediu que eles se retirassem. Segundo a deputada, eles chegaram a pedir um tempo enquanto aguardavam um possível habeas corpus, mas a cônsul explicou que não seria possível, pois os funcionários estavam presos no prédio por causa dos ativistas.

No início da noite, funcionários do consulado disseram que a advogada e o casal já teriam saído do local, num carro com vidros fumê. Denunciada pelo Ministério Público, Eloísa Samy é acusada de ter comandado atos violentos no Rio. Segundo o MP, ela se juntou ao grupo que organizava as depredações para dar assistência jurídica, mas acabou passando a participar ativamente das manifestações.

 

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