Apenas os pacientes com consulta marcada conseguem entrar na Santa Casa de Misericórdia, região central da capital paulista, na manhã desta quarta-feira, 23. As pessoas que pretendem ir ao laboratório ou realizar raio X e outros exames são barradas, mesmo que tenham agendado horário.
Do lado externo da Santa Casa, são os seguranças que fazem a triagem das pessoas que chegam ao local. Os pacientes são obrigados a mostrar o comprovante de agendamento de consulta para conseguir entrar.
A estudante Thayná Pereira, de 16 anos, foi barrada na entrada da Santa Casa com o filho Bryan Pereira, de apenas três meses, no colo. Thayná disse que desde que o bebê nasceu frequenta o Hospital São Luís Gonzaga, no Jaçanã, zona norte, e que nunca havia ido à Santa Casa.
Segundo ela, o menino é especial, mas não ainda sabe a deficiência que ele tem. Para descobrir, Bryan precisa realizar um ultrassom craniano. Os médicos do São Luís Gonzaga indicaram à mãe que o levasse à Santa Casa para fazer o exame. Mesmo com a indicação, os seguranças não permitiram a entrada de Thayná e Bryan. Ela disse que foi orientada a retornar em outro dia.
Segundo o provedor da Santa Casa, Kalil Rocha Abdalla, os serviços no pronto-socorro foram interrompidos porque a instituição não tem recursos para comprar materiais básicos, o que ele classifica como um "risco muito grande" para o atendimento.
"Não tem luva, não tem seringa, não tem nenhum material. Isso torna muito difícil o atendimento médico na dependência", afirmou em entrevista à Rádio Estadão nesta manhã. "A Santa Casa vive de material, nós necessitamos desse material."
Abdalla disse ainda que conversou com representantes das secretarias municipal e estadual de Saúde, além do Ministério da Saúde. "Nós estamos aguardando a solução por parte de algum, mas acredito que venha por parte do Estado."
O provedor da Santa Casa espera que o problema seja resolvido o quanto antes. Ele ressaltou, porém, que a única solução que vê é o repasse de verba do poder público para pagamento de fornecedor. Abdalla não estimou um número de pessoas prejudicadas pela paralisação, mas lembrou que cerca de 10 mil pessoas por dia utilizam os serviços da Santa Casa.
Batman
Do lado de fora, alguns manifestantes protestam contra a situação. Já conhecido na cidade por protestar contra a falta de qualidade dos serviços públicos, um ativista que se fantasia de Batman estendeu faixa na grade da Santa Casa: "50 bilhões para a Copa teve; 50 bilhões para a Santa Casa não tem". Ele disse que já foi atendido no hospital há 20 anos, quando era motoboy.
"A situação é absurda porque todo mundo sabia do déficit de materiais e ninguém fez nada. Vamos parar a cidade", prometeu o ativista. Outras faixas trazem as frases "Parabéns, Dilma, Alckmin e Haddad" e "Cadê o dinheiro dos nossos impostos? Safadeza, acorda, Brasil".