“Embora reconheça a importância institucional do MPF, com o qual sempre colabora, a Sabesp discorda frontalmente da imposição de um racionamento. A medida penalizaria a população e poderia produzir efeitos inversos daqueles pretendidos pelos procuradores. São Paulo preferiu enfrentar de forma organizada a maior estiagem de sua história. Os esforços feitos pela população e pela Sabesp até o momento equivalem à economia que se obteria com um rodízio de 36 horas com água por 72 horas sem água”, diz a nota da companhia.
Segundo balanço divulgado nesta terça-feira (29) pela Sabesp, 74% dos consumidores na grande São Paulo diminuíram seu consumo em relação à meta. Desde 1º de fevereiro, a companhia oferece bônus de desconto de 30% na conta de água, para quem reduzir o consumo em 20%. Nas leituras feitas entre o dia 1º e 25 de julho, 46% dos consumidores reduziram o gasto dentro da meta.
Apesar dessa redução no consumo por parte da população, o nível nos reservatórios do Sistema Cantareira continua em queda e chegou nesta terça-feira (29) a 15,7% da sua capacidade de armazenamento. Todo o volume útil do sistema foi consumido e resta agora apenas o volume morto - reserva técnica. Há um ano, o Cantareira trabalhava com 53,7% da sua capacidade total.
O Cantareira, além de abastecer 9 milhões de habitantes na Grande São Paulo, atende a 5 milhões de pessoas nas bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. Um estudo encomendado pelo Consórcio Intermunicipal das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí que representa essas cidades do interior, e elaborado pela Universidade de Campinas (Unicamp), mostrou que o volume do Cantareira pode secar totalmente em menos de 100 dias. O MPF se baseou nos resultados dessa pesquisa para fazer a recomendação de racionamento ao governo estadual.
Em entrevista à Agência Brasil no último dia 14, o professor Antonio Carlos Zuffo, do Departamento de Recursos Hídricos da Unicamp, responsável pela pesquisa usada pelo MPF, disse que acompanhou a situação dos reservatórios do sistema e alerta para a possibilidade de atraso no início do período de chuvas este ano.
"Não se pode garantir que voltam em outubro. No ano passado, ela só veio na segunda metade de dezembro. Foram só 15 dias de chuvas normais ano passado. Não sabemos se vai voltar com normalidade ou se vai atrasar", disse o especialista.
Zuffo defendeu uma redução na exploração da água e a implementação do rodízio como forma de garantir uma sobrevida do abastecimento. "Houve uma gestão de alto risco, o problema foi falta de planejamento, falta de investimento. A água é um recurso vital para todos os seres vivos, para todos os fins. Não poderiam ter adotado medidas com interesse meramente comercial do setor da água", declarou..