Marcelo da Fonseca
As buscas por restos mortais e fragmentos do avião que caiu em Santos, no acidente que matou o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos e mais seis pessoas, terminaram ontem, mas as investigações para entender os motivos da queda do jato continuarão nas próximas semanas.
Ontem, no quarto dia de investigações e buscas por pistas, cerca de 30 agentes da PF e da Aeronáutica trabalharam com o auxílio de técnicos norte-americanos especialistas em desastres aéreos. Cinco peritos do Canadá e dos Estados Unidos, com dois técnicos também dos EUA, que trabalham para a empresa Cesna, proprietária do jato, avaliaram peças já recolhidas e registraram dados sobre os destroços do avião. Segundo a FAB, a presença de peritos de outros países atende a uma determinação internacional que dita que, durante investigações de acidentes aéreos, devem comparecer os representantes da agência de investigação do país fabricante da aeronave e do país fabricante do motor.
Desde as 6h de ontem até o meio-dia, cerca de 16 quilos de pequenos fragmentos do avião foram localizados pelas equipes de busca, além de uma grande parte da asa esquerda do jato. O Corpo de Bombeiros pediu aos moradores de imóveis vizinhos à área onde caiu o avião que avisem a Polícia Militar caso encontrem fragmentos dos destroços da aeronave em outros pontos do Bairro Boqueirão, em Santos. Algumas peças foram encontradas a cerca de 130 metros de distância do local da queda e outras partes podem ter se espalhado pela região. As buscas por destroços no terreno onde ocorreu a queda da aeronave foram encerradas pelos bombeiros às 13h45 de ontem.
A ausência do áudio com as conversas entre os pilotos do jato e a torre de comando do aeroporto de Guarujá gerou críticas de especialistas em aviação. Na sexta-feira, depois de desmontar a caixa-preta, os peritos do Cenipa informaram que os dados não eram referentes ao voo que aconteceu entre o Rio de Janeiro e Santos. Segundo o professor de ciências aeronáuticas da PUC do Rio Grande do Sul, Fernando Ribeiro, são raros os casos de gravadores que param de funcionar durante um voo. “Se o gravador de voz estava com defeito, o avião não podia ter decolado. A aeronave voou sem estar em conformidade com o regulamento. A fita de gravação é contínua e registra as últimas conversas de dentro da cabine, justamente para auxiliar nas investigações em casos de acidente”, avaliou Ribeiro.
Perguntas que guardam respostas
» O avião pegou fogo antes de cair?
Moradores afirmaram ter visto uma “bola de fogo” caindo do céu, mas somente a investigação da Aeronáutica poderá confirmar se houve algum problema no ar. Segundo especialistas, o depoimento de testemunhas de quedas de avião quase sempre é impreciso.
» Até que ponto o tempo ruim prejudicou o voo?
As condições climáticas podem ter contribuído para o acidente e dificultado o processo de arremetida. Porém, a Aeronáutica ressalta que o tempo ruim não deve ter sido a única causa do acidente. Falhas mecânicas do avião ou falhas humanas não são descartadas.
» Qual a possibilidade de falha humana?
Os peritos da Aeronáutica não descartam a chance de que pode ter havido desorientação espacial dos pilotos. Com a visibilidade ruim por causa de nuvens ou neblina, os pilotos podem achar que o avião está em uma direção ou altura, sendo que está em outra.
» Os pilotos estavam cansados?
Essa hipótese deve ser apurada pelos técnicos do Centro de Investigações e Prevenção de Acidentes Aéreos (Cenipa) e pelo Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA). Em 8 de agosto, cinco dias antes do acidente, o piloto Marcos Martins postou em uma rede social uma mensagem se dizendo cansado. “Cansadaço. Voar, voar e voar.
» Em qual posição a aeronave caiu?
A investigação dos destroços e nas casas vizinhas ao local do acidente aponta que o avião despencou, levando de 15 a 20 segundos para atingir o solo. Especialistas mencionaram que pode ter ocorrido o “estol da asa”, que significa uma queda pela perda de sustentação ligada ao ângulo do avião. Neste caso, as asas estariam na posição vertical.
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