Utilizada como centro clandestino de tortura e morte, na época da ditadura militar, a Casa Azul foi o destino de muitos guerrilheiros que atuaram no Araguaia e também de camponeses. Para dar um ar de legalidade e evitar desconfianças, lá funcionava também o extinto Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER). Hoje o local abriga a sede do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).
Em um imenso quintal cheio de árvores e sombras, o lugar é um complexo de pequenas casas espalhadas em um terreno. Uma, especificamente, foi apontada por sobreviventes como o local da maioria das torturas. Ela estava abandonada e lacrada quando, na segunda quinzena de setembro, a Comissão Nacional da Verdade foi a Marabá fazer uma de suas últimas diligências na região do Araguaia. Foi preciso arrombar o portão de grades para entrar. A poeira e as teias de aranha nas janelas azuis dividiam espaço com entulho em alguns cômodos.
Depois de décadas, Raimundo de Sousa Cruz, mais conhecido como Barbadinho, entrou novamente nas salas em que levou choques elétricos, tapas e chutes.
A psicóloga da Comissão Estadual da Verdade do Pará, Jurelda Guerra, explica que a reação de Barbadinho é comum. Segundo ela, todos os torturados - a maioria senhores com mais de 70 anos – apresentam sintomas parecidos, por causa dos traumas físicos e psicológicos. “Medo, sonhos na madrugada, sonhos assim com terror. Acordam com taquicardia. Acordam com medo, muito choro.Todos eles choravam ao falar. O sentimento de desesperança pode ser uma consequência da depressão.
Apesar de as vítimas apresentarem dificuldades para expor o que passaram na Casa Azul, o coordenador da Comissão Nacional da Verdade, Pedro Dallari, ratifica a importância do ritual. “A presença da Comissão Nacional da Verdade em locais onde houve graves violações de direitos humanos, é muito importante porque estimula os testemunhos, os depoimentos tanto de vítimas, como de agentes. E isso forma a convicção da comissão”, destacou.
Barbadinho não foi o único a entrar na casa novamente. Outras vítimas e até um soldado recrutado pelo Exército resolveram voltar lá e contar o que passaram no lugar classificado por eles como casa dos horrores..