Teresina – A Polícia Federal (PF) prendeu três pessoas no Ceará e uma na Paraíba, ontem, suspeitas de fraudar o Exame Nacional de Ensino Médio (Enem). A Operação Apollo também cumpriu nove mandados de busca e apreensão nos dois estados e no Piauí. Todos foram indiciados por fraude em concursos públicos e por organização criminosa.
Segundo as investigações, o esquema beneficiou pelo menos 40 estudantes, que pagaram até R$ 30 mil para ter acesso a respostas certas do exame de 2013, e conseguiram aprovação, principalmente para cursos de medicina. O presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira (Inep), órgão responsável pelas provas do Enem, Francisco Soares, informou que ainda não é possível dizer se a quadrilha tem relação com o suposto vazamento do tema da redação do Enem 2014, mas descartou a anulação do exame. “O Enem não será cancelado, é importante deixar claro. Estamos diante de um fato completamente isolado, e a polícia está investigando.”
A investigação centralizada na Superintendência da Polícia Federal no Ceará começou há 13 meses. Além das prisões de ontem, ocorreram duas em flagrante de dois candidatos no sábado, em Juazeiro do Norte, no Ceará. Eles foram detidos com os gabaritos em seus celulares, mas foram liberados depois de pagar fiança de R$ 6 mil. Se forem condenados, podem pegar de um a quatro anos de prisão.
De acordo com a Polícia Federal, o esquema tinha como centro de atuação a região do Cariri, no Sul do Ceará, mas as ações da quadrilha se estendiam também pela Paraíba. Os fraudadores direcionavam a atuação a candidatos interessados em ingressar no curso de medicina de universidades públicas. A corporação destacou que o Inep tem colaborado com as investigações desde o ano passado, “fornecendo as informações necessárias à identificação dos investigados e à elucidação da fraude”.
Segundo a delegada Andréa Karine Assunção, responsável pela investigação, o objetivo agora é descobrir se existe relação entre os suspeitos presos e a denúncia de vazamento do tema da redação, que teria ocorrido nos três estados onde foi deflagrada a Operação Apollo. Na quarta-feira, o estudante Jomásio Barros, do Picos, no Piauí, denunciou à PF que no domingo recebeu mensagem via celular com o tema da redação duas horas antes da prova.
“Mapeamos dois modus operandi de atuação da quadrilha. Por enquanto, como a investigação continua para identificação de todos os beneficiários, não podemos passar esse tipo de informação”, disse a delegada.
As investigações seguem agora para identificar todos os possíveis beneficiários do esquema criminoso, responsável por fraudes ao Enem em 2013 e 2014. Aqueles estudantes que tiverem sido beneficiados com a aprovação para universidades devem ter as matrículas canceladas, segundo o superintendente da PF no Ceará, Renato Cesarine.
Vazamento
Em depoimento à PF na quarta-feira, em Teresina, Jomásio Barros Filho afirmou que recebeu uma mensagem pelo WhatsApp com o tema da redação às 10h47 de domingo, mais de duas horas antes do horário do início da prova, às 13h. O celular dele foi apreendido para perícia.
Na quinta-feira, outros três estudantes de Campo Maior, também no Piauí, afirmaram que receberam mensagens similares com o tema da redação em grupos de WhatsApp por volta do mesmo horário. E ontem, um candidato de Fortaleza declarou que recebeu o mesmo conteúdo pelo celular de um amigo de Campina Grande, na Paraíba.