Enviado especial
Juiz de Fora – No auge da violência nazista, em 1941, quando Hermann Görgen abriu a fábrica em Juiz de Fora, o Brasil recebeu, segundo o Departamento Nacional de Imigração (DNI), apenas 381 hebraicos, sendo 227 alemães e 7.152 católicos, de um total de 9.938 estrangeiros.
A tese de doutorado “Imigrações urbanas para o Brasil: O caso dos Judeus”, de René Daniel Decol, apresentada na Unicamp, detalha bem esse período: “Jamais havia ocorrido um episódio como a chegada de mais de 20 mil judeus em um intervalo de apenas cinco anos, como aconteceu entre 1926 e 1930, quando o país já se encontrava no roteiro das companhias de navegação que transportavam imigrantes da Europa para o Novo Mundo. É provável que, nessa época, não houvesse mais de 10 mil judeus no país. Num curto espaço de tempo, portanto, seu volume triplicou”.
O crescimento tão grande, segundo Decol, provocou uma propaganda antijudaica, que era corrente na Europa Central na década 1930 e que, nas palavras do autor, o nazismo levaria ao paroxismo. “Procurava identificar todo judeu como um perigoso comunista.
A história de Olga, aliás foi tema de um ótimo livro escrito por Fernando Moraes e editado pela Companhia das Livras em 1994. O livro serviu de base para um filme dirigido por Jayme Monjardim, de 2004. É importante destacar que, entre 1933 e 1938, esteve ativo no país o movimento fascista Ação Integralista Brasileira (ABI). Também conhecidos como camisas verdes, os integralistas, como os fascistas brasileiros eram chamados, eram antissemitas.
A imigração judaica para o Brasil, entretanto, ocorre desde o período colonial, de acordo com o livro Estudos sobre a comunidade judaica no Brasil, de Nachman Falbel, com destaque para o período da dominação holandesa em Pernambuco, entre 1624 e 1654. Durante o império, destaca-se o período a partir de 1848 até a proclamação da República, em 1889, quando vieram os imigrantes da Europa Ocidental e Central. O fluxo de europeus seguiu com força após a Primeira Guerra Mundial e durante o poderio do governo nazista na Alemanha, entre 1933 e 1945. Após a Segunda Guerra, o fluxo seguiu paralelo à formação do Estado de Israel e também com judeus vindos de outros países da América Latina.
Decol destaca que a presença judaica assumida como religião começa apenas no final do século 19, após a Constituição de 1824 ter instituído a liberdade religiosa no Brasil. “O Brasil, que desde fins do século 19 se estabelecera como um importante destino da migração internacional, tornou-se uma alternativa natural. Sucessivamente, judeus provenientes do Império Russo, dos Bálcãs e da Europa Central passaram a chegar em números crescentes: calcula-se que, entre 1920 e o início da Segunda Guerra Mundial, mais de 50 mil judeus tenham aqui aportado”, escreveu Decol.
Colônia alemã em Minas
De acordo com Roberto Dilly, presidente do Instituto Teuto-Brasileiro Willian Dilly, os alemães começaram a chegar a Juiz de Fora em 1858, quando Mariano Procópio Ferreira Lage organizou a Companhia União e Indústria e decidiu contratar 3 mil colonos germânicos, incluindo alemães e austríacos. Sendo que 1.193 vieram em apenas dois meses,
Dilly pontua que eles foram fundamentais para a industrialização da cidade, que chegou a ser conhecida como a “Manchester Mineira”, uma referência à cidade inglesa, berço da Revolução Industrial. “Os imigrantes alemães ajudaram a transformar a cidade de agrícola para industrial”, afirma Dilly. Porém, com a Primeira Guerra Mundial, em 1914, o humor em relação aos alemães mudou. “Falsos nacionalistas começaram a invadir e quebrar locais relacionados aos alemães”, destaca Dilly.
Com a Segunda Guerra e o posicionamento brasileiro do lado contrário ao encampado por Hitler, os alemães passam a ser perseguidos na cidade e a maioria, segundo registros históricos encontrados por Dilly, deixa a cidade. “Foi uma intolerância étnica total”, recorda o presidente do Instituto Teuto-Brasileiro, que se lembra de um avô que foi preso por falar em alemão com um neto quando estava em um bonde. (Colaborou Marcelo da Fonseca).