Os 48 judeus e exilados políticos que desembarcaram em Juiz de Fora, em 1941, fugindo do nazismo com a ajuda do professor Hermann Görgen, tiveram dificuldades para se adaptar à rotina no interior mineiro.
A proximidade entre Juiz de Fora e o Rio de Janeiro, então capital federal, e as características europeias da cidade mineira – o município foi apelidado no final do século 19 de “Manchester Mineira” pelo grande número de indústrias – não foram suficientes para uma adaptação mais fácil dos exilados. Durante o período de guerra, a população tratava com preconceito os alemães que chegavam ao Brasil. Principalmente depois que o presidente Getúlio Vargas declarou guerra aos governos fascistas, algumas regras duras entraram em vigor, proibindo o uso do idioma alemão no país e o comércio de alguns produtos fabricados pelos imigrantes, mesmo eles tendo sido obrigados a fugir pelo regime nazista.
"A língua foi sem dúvida a maior dificuldade.
O escritor alemão Ulrich Becher, integrante do grupo Görgen, relatou as dificuldades para conseguir trabalhar no interior mineiro. Ficou pouco tempo na fábrica em Juiz de Fora até se mudar para o Rio de Janeiro. “Não é possível construir uma editora somente a partir das suas ideias, ainda que se tenha 50 títulos na cabeça. Precisa-se de impulsos e gente com quem se briga e pensa. Há coisas que são impossíveis por estarem no lugar errado”, desabafou Becher em carta para seu amigo Gerhard Metsch. O escritor alemão teve várias de suas obras queimadas em praças públicas quando os nazistas chegaram ao poder.
A frustração com a vida de exilado continuou mesmo depois do fim da Segunda Guerra, em 1945. Como muitos dos intelectuais defendiam ideologias de esquerda, no período da Guerra Fria eles continuaram enfrentando preconceito e censura mesmo distantes de suas pátrias. “Até os anos 1950, esses exilados enfrentaram grande dificuldade, passando por um período de reclusão e silêncio. Mesmo com o fim da guerra, esses judeus continuaram sem poder se manifestar intelectualmente. Muitos eram socialistas, de esquerda, e corriam o risco de serem taxados de comunistas.