Eles não vestem roupa vermelha, botas pretas e tampouco têm aquela imensa barba branca. Gente comum decidiu ajudar o menino que escreveu uma carta ao Papai Noel pedindo para voltar a enxergar. David Oliveira, de 14 anos, mora em Brasília e recebeu a solidariedade de milhares de pessoas. Brasilienses, mineiros e cearenses entraram em contato. E o Hospital Oftalmológico de Brasília (HOB) dará a ele o tratamento de que precisa. O adolescente conseguiu ainda um emprego como Menor Aprendiz. A mãe, Francinete Oliveira, conseguiu trabalho. Recebeu a proposta de uma empresa para exercer o cargo de auxiliar de serviços gerais.
O Correio Braziliense publicou na última quinta-feira a história do menino. Ele sofre com uma doença na córnea chamada ceratocone e não tinha condições de cumprir tarefas básicas, como pegar um ônibus, ler o que os professores escreviam no quadro e desenhar sem colar o rosto no papel. O desenho, aliás, é a atividade que mais gosta. Para fazer cada uma dessas atividades, ele precisaria usar uma lente especial, até que conseguisse um transplante de córnea. A lente custa R$ 1,2 mil. A mãe não podia pagar. Por isso, ele dizia na carta endereçada ao Bom Velhinho: “Sou muito esforçado em casa e na escola, minha mãe me elogia muito. Mas o que eu queria, se for possível, é uma cirurgia de córnea, pois estou com baixo rendimento no estudo e perdi uma oportunidade de trabalhar no Jovem Menor Aprendiz”.
A ajuda do que a mãe dele chama de “anjos” realizou os desejos do filho. Ele passou por exames no HOB, e o médico que decidiu atendê-lo de graça, Guilherme Rocha, disse que o ceratocone está muito avançado, mas conseguirá garantir uma visão perfeita a ele por um tempo com uma lente nova no mercado. Esta não custa R$ 1,2 mil, mas R$ 4 mil. Chama-se lente escleral e apresenta bons resultados em pacientes com o problema de David. Ela é capaz de evitar a cirurgia em David por anos, garantindo uma visão perfeita.
O adolescente a receberá em 20 dias. “Acredito que vou conseguir enxergar até o Natal”, espera o menino. “É uma lente para o caso dele, com tecnologia muito avançada. Terá uma visão perfeita sem cirurgia. Temos que acompanhar o caso de perto para ver a evolução da doença e ver a necessidade do transplante”, completa o oftalmologista do departamento de córnea e lentes do HOB. David conversou com a reportagem sobre a repercussão do caso. Confira a entrevista:
Você esperava tudo isso quando escreveu a carta para o Papai Noel?
Não. Era só um desabafo, mas, depois, um monte de gente veio falar comigo, me ajudar e vi que era sério.
Está feliz?
Muito. Vou voltar a enxergar. Depois de passar por muitos médicos que só diziam: “É, você tem problema de vista”, fui a um que me deu a solução. Consegui ainda um emprego de Menor Aprendiz em uma fábrica. E um artista quer falar comigo, ver os meus desenhos. Ele é profissional, professor de faculdade. Quero ser desenhista quando me formar, fazer quadros, caricaturas, desenhos, filmes, muitos desenhos. Isso vai me ajudar.
Como será o primeiro emprego?
Vou ajudar a minha mãe em casa e investir na minha carreira. Vou comprar material de desenho profissional com o meu salário.
E a lente? O que achou?
Vou poder sentar em qualquer cadeira na sala de aula e não terei de ficar grudado no quadro. Vou pegar ônibus sozinho e enxergar até as letras pequenas.