A Anistia Internacional (AI) vai denunciar à Organização das Nações Unidas (ONU) a morte e o sumiço de jovens na Bahia. A entidade foi procurada por um grupo de pais que tiveram os filhos mortos ou sequestrados, com relatos de participação policial e de imobilismo nos inquéritos, que, em muitos casos, permanecem sem conclusão. O assessor de Direitos Humanos da AI, Alexandre Ciconello, ouviu o relato de cinco mães e um pai, que ainda aguardam uma resposta mais clara do Estado. Em todos os casos, os jovens são negros e de famílias humildes. “Nós continuamos a ver jovens negros sendo assassinados, sequestrados ou desaparecidos, sem nenhum tipo de justiça. Há o caso do Davi Fiuza, que desapareceu há 40 dias, depois de uma abordagem da polícia. Outras mães aqui tiveram os filhos assassinados ou desaparecidos, sem nenhum tipo de resposta efetiva do Estado”, disse Ciconello.
Rute Silva, mãe de Davi, relatou que o filho de 16 anos foi sequestrado quando estava observando uma operação da polícia, em 24 de outubro. “Às 7h30, houve uma operação policial no Bairro Vila Verde e meu filho, como todo menino curioso, ficou olhando. De repente, ele foi encapuzado, teve amarrados os pés e as mãos e acabou jogado em um carro descaracterizado. Havia muitas viaturas da polícia por perto, segundo as testemunhas. Desde então, procurei todos os meios legais e jurídicos, fui ao Instituto Médico Legal, aos campos de desova de cadáveres, mas nada”, contou.
De acordo com o integrante da AI, o caso de Davi será levado à ONU e outros casos de desaparecidos possivelmente à Organização dos Estados Americanos (OEA). “No caso do Davi, há um grupo de trabalho das Nações Unidas sobre desaparecidos que já nos procurou para apresentar esse caso formalmente ao comitê.” Ciconello disse que há uma dificuldade institucional do governo da Bahia em dar uma resposta sobre o assunto. “Não são casos isolados, há uma dificuldade da corporação, da Secretaria de Segurança Pública, em agir nesses casos, principalmente quando há envolvimento de policiais. Temos muitos relatos de grupos de extermínio. Os mecanismos de controle da atividade policial na Bahia são muito frágeis. A corregedoria acabou de arquivar o caso do Davi, com testemunhas dizendo que ele foi abordado pela Polícia Militar.”
Ele informou que a Anistia Internacional acaba de iniciar uma campanha mundial sobre o caso de Davi. “O que a gente busca fazer, como no caso do Amarildo (ajudante de pedreiro desaparecido no Rio de Janeiro após abordagem policial), é o constrangimento dos governos, de mobilizar as pessoas para cobrar as investigações. Oficialmente, dizem que vão apurar, mas não há medidas efetivas de responsabilização e de parar com esse modus operandi da polícia. Também há uma culpabilização das vítimas e de suas famílias.”
Procurada pela reportagem da Agência Brasil, a Secretaria de Segurança Pública da Bahia informou, em nota, que todas as medidas cabíveis estão sendo tomadas. Segundo o órgão, os policiais que estavam de plantão no dia do desaparecimento de Davi estão sendo ouvidos no inquérito. A secretaria informou que, entre 2013 e este ano, 104 policiais foram demitidos, graças ao trabalho das corregedorias.