O Ministério Público Estadual (MPE) e a Polícia Civil têm cópia da documentação e ambas as instituições apuram delitos em cooperativas das zonas sul e leste da capital. A gestão Fernando Haddad (PT), que comanda a SPTrans, afirma que colabora com as autoridades sempre que solicitada. Entretanto, a administração estuda excluir de vez o modelo de cooperativas da concessão do transporte público da cidade.
A carta que mostra a ligação da cúpula da facção com a SPTrans foi descoberta por carcereiros em maio de 2012. Ela dá a entender que Roberto Soriano, o Tiriça, tinha um lotação e o doou para outro membro da facção, Daniel Vinicius Canônico, o Cego. Este, por sua vez, também tinha uma van, mais antiga, e recebeu ordem de vendê-la após ganhar o novo veículo do colega. O dinheiro da venda iria para o PCC. Não há, na carta, referência exata sobre qual era a cooperativa em que esses lotações operavam.
Tiriça é um preso tão importante para o PCC que foi destacado, segundo o Ministério Público Estadual (MPE), para negociar a paz entre a quadrilha e as facções cariocas Amigos dos Amigos (ADA), Comando Vermelho (CV) e Terceiro Comando (TC).
Ambos integram a chamada "Sintonia Fina Geral" - grupo de sete pessoas que respondem apenas a Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder máximo da organização. Segundo o MPE, a facção tem 7.600 integrantes e fatura cerca de R$ 120 milhões por ano.
Despacho
A carta apreendida é um "salve" - conjunto de ordens da cadeia para a rua. Continha uma série de comandos: de indicações de indivíduos que deveriam assumir ações do grupo a dicas para refino de cocaína, passando por uma lista de policiais a serem mortos.
Sobre a SPTrans, depois de explicar seu plano, Tiriça escreveu: "O parceiro (um outro colaborador da facção) me falou que a SP Transporte não aceita pegar um carro de um protocolo e colocar em outro protocolo, mas esses caras da cooperativa, meu amigo, só vão no acelera mesmo", referindo-se a como proceder com a transferência.
Um mês depois de a carta ter sido descoberta, em junho de 2012, o secretário estadual da Administração Penitenciária, Lourival Gomes, escreveu um despacho relatando o caso - e uma série de outros crimes combinados na carta - e pediu a internação de Tiriça no Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) de Presidente Bernardes, a 580 quilômetros da capital paulista.
"O que se questiona é como os presidiários, que estão recolhidos no cárcere há muitos anos, conseguem adquirir ônibus? A resposta é clara. Tal é possível graças ao tráfico de entorpecentes e a existência de delinquentes dispostos a auxiliá-los nesse comércio", escreveu o secretário, em seu despacho. Atualmente, Cego está no RDD em Presidente Bernardes. Tiriça foi transferido, a pedido do governo paulista, para o Departamento Penitenciário Nacional (Depen) e cumpre pena na Penitenciária Federal de Porto Velho, em Rondônia. .