Jornal Estado de Minas

Brasileiro é fuzilado sem perdão na Indonésia

De nada adiantaram os pedidos de clemência da presidente Dilma Rousseff, da família e de amigos de Marco Archer para que ele escapasse da execução

Marcelo da Fonseca- enviado especial
"Estou ciente de que cometi um erro gravíssimo, mas, enfim, mereço mais uma chance porque todo mundo erra" - Marco Archer Cardoso Moreira, fuzilado ontem - Foto: IBTIMES.COM/Reprodução

O carioca Marco Archer Cardoso Moreira, de 53 anos, foi executado ontem por fuzilamento na Indonésia. Segundo o porta-voz da Procuradoria-Geral do país asiático, Tony Spontana, a execução aconteceu às 0h30 no horário local – 15h30 de ontem, no horário de Brasília. Preso desde 2003, depois de ser flagrado com 13,4 quilos de cocaína no aeroporto de Jacarta, capital da Indonésia, Archer foi o primeiro cidadão brasileiro na história a cumprir pena de morte. O corpo será cremado na Indonésia e trazido para o Brasil.

Instrutor de voo livre, Archer tentou entrar no país asiático em 2003 com cocaína escondida nos tubos de uma asa delta. A droga foi descoberta pelo raio-x do aeroporto internacional de Jacarta. O brasileiro conseguiu fugir do aeroporto, mas foi preso duas semanas depois e condenado à morte em 2004. Ainda em 2006, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tentou aliviar a sentença do brasileiro, mas o pedido não foi aceito pelo governo local. A presidente Dilma Rousseff (PT) também tentou a clemência do atual presidente da Indonésia, Joko Widodo, sem sucesso.

No procedimento de execução, 12 policiais de um destacamento especial se postaram diante de Marco e, ao sinal do líder do pelotão, dispararam em direção ao peito do brasileiro.
Nem todas as armas estavam carregadas – os atiradores não sabiam quais das armas estavam carregadas, de modo que ninguém saiba quem deu o tiro fatal. Além dele, outros cinco presos foram executados ontem. O cidadão holandês Ang Kiem Soe; um residente do Malawi, Namaona Denis; o nigeriano Daniel Enemuo; uma mulher da Indonésia, Rani Andriani; e outra vietnamita, Tran Thi Bich Hanh.

Em conversa com o cineasta Marcos Prado, que produz um documentário sobre a história da prisão do brasileiro na Indonésia, Archer expressava a vontade de voltar para o Brasil e pedia perdão pelo crime. “Estou ciente de que cometi um erro gravíssimo, mas, enfim, mereço mais uma chance porque todo mundo erra. Quero voltar, então, ao meu país. Pedir perdão a toda minha nação e mostrar para esses jovens que a droga só te leva a dois caminhos: à prisão ou à morte”, disse Archer.

Nas redes sociais, em uma página criada no Facebook “Free Curumim” de apoio ao brasileiro, amigos postaram fotos de Archer e depoimentos com lembranças dele. “Vai Curumim, voa bem alto. Obrigado pela confiança, pelo exemplo de coragem e superação, pelos longos papos que tivemos nesses dois últimos anos. Seu otimismo me fez acreditar que você voltaria para cá. Mesmo sabendo que errou, (você) sonhou que seria possível recomeçar tudo do zero”, postou o cineasta Marcos Prado.

INDIGNAÇÃO NO PLANALTO
Duas horas depois de confirmada a execução, o Palácio do Planalto divulgou uma nota em que a presidente Dilma afirma estar “consternada e indignada” com a execução do brasileiro. “O recurso à pena de morte, que a sociedade mundial crescentemente condena, afeta gravemente as relações entre nossos países”, diz a nota. A presidente informou ainda que o embaixador do Brasil em Jacarta, Paulo Alberto da Silveira Soares, foi chamado a Brasília para consultas. Na linguagem diplomática, convocar um embaixador representa uma espécie de agravo ao país onde está o diplomata.

Dilma ressaltou não “deconhecer a gravidade dos crimes que levaram à condenação de Archer” e respeitar o sistema jurídico indonésio, mas lamentou que seus apelos humanitários pela clemência do brasileiro não foram atendidos pelo presidente da Indonésia, Joko Widodo.
Na sexta-feira, a presidente conversou com Widodo por telefone, pedindo que fosse concedida uma mudança na pena capital de Archer. O chefe de Estado indonésio afirmou que não poderia atender ao pedido de Dilma, uma vez que todos os processos do julgamento ocorreram dentro das regras locais.

Outro brasileiro condenado à morte é o paranaense Rodrigo Muxfeldt Gularte, de 42, que também foi preso na Indonésia por tráfico de drogas. Ele teve seu pedido de clemência rejeitado e pode ter a execução marcada para fevereiro. A defesa de Rodrigo alega que o brasileiro sofre de problemas mentais e tenta a mudança de pena para evitar mais uma execução. .