No repertório das 21 atrações, tiveram músicas que louvam o Rio, de compositores símbolo da cidade, como Tom Jobim, Noel Rosa, Tim Maia e Braguinha, fossem de seu repertório próprio ou não. Mas poucas se lembraram de mencionar no palco os 450 anos. Gil, que levantou o público com "Aquele Abraço", foi exceção, como foram Toni Garrido, responsável por outro momento de coro forte, com "Solteiro no Rio de Janeiro", e Frejat, que cantou "Do Leme ao Pontal". Alguns cantores foram mal aproveitados, como Zeca, talvez o mais esperado da noite, que só ganhou uma música, "A voz do morro", e Ana Carolina, que tinha o maior fã-clube e que também só ficou com uma faixa, "Partido Alto".
O fim da apresentação, à zero hora do domingo (1º) do aniversário, foi com quase todos no palco (parte do grupo aparentemente foi embora antes da hora) cantando o hino extraoficial do Rio, "Cidade Maravilhosa" - cujos versos completos ninguém sabia. Em seguida veio um espetáculo pirotécnico caprichado, de oito minutos, um mini réveillon. Um "Parabéns pra você" foi puxado espontaneamente pela plateia.
A duração do show foi de 2h10 (houve um atraso de 50 minutos no horário inicial anunciado, 21 horas). Cada artista recebeu R$ 50 mil de cachê, num total de pouco mais de R$ 1 milhão.
A escalação foi pensada para agradar cariocas de todas as idades e classes, só que acabou se concentrando em artistas maduros e canções antigas, com privilégio para a bossa nova e o samba. Os jovens, maioria da plateia, não reclamaram. "Precisamos de shows gratuitos e nas zonas norte e oeste. É tudo sempre na Praia de Copacabana, que fica muito longe pra gente", exigiu a estudante Juliana Carvalho, de 20 anos, vinda da Pavuna de metrô, e que se declarou fã de Paulinho da Viola. Ele cantou "Foi um rio que passou em minha vida", um ponto alto da festa. Outro foi com os Paralamas, chamados pelo hit "Óculos".
O palco foi montado numa área da Quinta onde fica um vale, cujas laterais formam um anfiteatro natural. Nos anos 1980, apresentações gratuitas de música clássica realizadas ali chegaram a ter picos de 120 mil espectadores. O local hoje é utilizado para shows esporadicamente. "Fizemos aqui porque é mais democrático. Tem metrô e tem ônibus para todo mundo", justificou o presidente da Riotur, Antonio Pedro Figueira de Mello. "Achei o público muito interessado. Precisamos dar a quem não pode pagar esse tipo de música que não toca no rádio", disse Baby do Brasil, depois de cantar "Menino do Rio" com Caetano.
A chuva parecia que ia ameaçar o sucesso do show, ápice da programação comemorativa do fim de semana. Mas apenas lhe tirou público - a Riotur esperava 60 mil pessoas.