As organizações reforçaram ainda a necessidade de os serviços essenciais, como de água, ser ofertados como bens públicos e não sejam privatizados. A babá Ana Maria Silva, de 55 anos, moradora de São Bernardo do Campo, na região metropolitana, conta que a rotina desgastante das tarefas domésticas só piorou depois que começou a faltar água nas torneiras. “Fecham um período. A gente tem que encher os baldes para se prevenir”, disse. Ela ressaltou que, depois de um dia de trabalho, nem sempre é possível tomar banho em casa.
Ana Maria, que integra o Movimento dos Sem-Teto Urbano (MSTU), foi uma das cerca de 2 mil participantes do ato do 8 de março em São Paulo, segundo estimativa da Polícia Militar (PM). Outra organização que integrou o ato foi o Coletivo Juntos!. A funcionária pública Sâmia Bomfim, da Coletivo Juntos!, disse que a falta de água afeta sobretudo o cotidiano das mulheres. “São elas que cuidam das tarefas domésticas. Se falta água, os filhos não vão para o colégio e dificulta a ida delas ao trabalho”.
A marcha trouxe outros temas da conjuntura, como o avanço de pautas conservadoras no Congresso Nacional. “Estamos começando a puxar o 'Fora, Eduardo Cunha'. Ele é autor do Estatuto do Nascituro . Além disso, é um dos principais nomes envolvidos no escândalo da Lava Jato”, disse. Nalu Faria, uma das coordenadoras da Marcha Mundial de Mulheres, entende que o enfrentamento dessas pautas no Legislativo passa também por uma reforma política. “Com esse sistema político-eleitoral, nós não vamos ter um Congresso a favor das mulheres”, completou.
Entre as pautas históricas do movimento de mulheres, a legalização do aborto foi um dos que mais se fez presente no ato deste domingo. “Lutamos para que o aborto seja legalizado, porque, como está demonstrado em outros países, isso diminui a incidência dessa prática, porque obriga o Estado a criar políticas públicas que cuidem da saúde sexual e reprodutiva das mulheres”, defendeu Yury Orozco, integrante do grupo Católicas pelo Direito de Decidir. Na opinião dela, manter as mulheres que optam pelo aborto na clandestinidade somente contribui para o aumento das mortes.
As organizações de mulheres negras, por sua vez, reforçaram a necessidade de medidas que combatam o racismo institucional.