Fazer uma faculdade, viajar, atender pessoas, falar outro idioma, memorizar assuntos históricos, escrever um livro, ter um emprego…todas essas atividades são normais na vida de Bruno Ribeiro , pernambucano de 22 anos com Down. Assim como qualquer jovem brasileiro, Bruno se esforça para conquistar suas metas pessoais. Talvez um pouco mais que a maioria, uma vez que ele nasceu com graves problemas cardíacos e precisou passar por uma extensa cirurgia aos sete meses de vida. Apesar disso, ele acabou se tornando o primeiro turismólogo Down do Brasil. E mais. Antes mesmo que muitos colegas de classe, Bruno já está contratado pela Empresa Pernambucana de Turismo (Empetur). A história dele é um exemplo não apenas de sua superação, mas de como pessoas com Down podem, sim, contribuir ativamente para a sociedade. Até como empreendedores. E o melhor: o mercado de trabalho já percebeu isso!
“O turismo chamou mais minha atenção porque adoro viajar e gosto de conhecer a história dos lugares. Fiquei surpreso com o convite da Empetur, mas sei que posso contribuir muito para a empresa. Sou espontâneo, esforçado, amigável e tenho uma memória ótima. Quero ganhar experiência na Empetur para, no futuro, abrir minha própria agência de viagens”, afirma Bruno, com voz firme e mansa. Seu plano também inclui entrar em um curso de inglês o quanto antes. “A gente tem que se aperfeiçoar sempre”, completa sob a visão da mãe, Helena Ribeiro. Ela, orgulhosa, faz questão de lembrar que a vitória de Bruno envolveu um apoio incondicional da família e revela que o segredo é acreditar. “Muitos pais querem proteger as pessoas com Down e acabam tirando deles a chance de ter uma carreira. É preciso fazer um esforço diário para acreditar, para confiar no potencial deles e investir em educação.”
A médica geneticista Paula Arruda, diretora da Associação Novo Rumo, referência em atendimento a crianças com Down em Pernambuco, acredita que o mercado de trabalho está mais preparado do que as próprias pessoas com Down. “As empresas estão abrindo espaço. O que é impossível, contudo, é inserir uma pessoa sem formação em um ambiente profissional. O problema é muitas famílias não percebem o quanto um trabalho ajuda na autoestima deles”, comenta. Ainda de acordo com ela, uma boa forma de inserir as pessoas com Down num trabalho ativo é ajudá-los a empreender. “Aqui na associação, estamos com um projeto de cinco crianças com Down e suas mães. Elas formam uma cooperativa de culinária e estão começando a ampliar sua cartela de clientes. No Natal, chegamos a vender 1,5 mil panetones e estamos a todo vapor na produção da Páscoa.”