A presença de tropa armada do Exército, Marinha e Aeronáutica no complexo incomodou o ativista inglês Ben Phillips, diretor de Campanhas e Políticas da ActionAid, organização internacional que desenvolve projetos em comunidades carentes. Ele esteve na favela nesta quarta-feira, 29.
"Parecia uma guerra, não parecia um policiamento de área civil", reclamou ele, que, pela primeira vez no Brasil, afirma ter se surpreendido ao ver soldados vestidos com toucas-ninja no complexo da Maré. "Ouvimos moradores que estão preocupados, há um temor de que a operação seja conduzida com mãos pesadas. Quando um policial militar vem à sua rua, isso deveria fazer você se sentir mais seguro. E essa não é a experiência dos moradores da Maré."
A substituição dos militares pelos PMs do Comando de Operações Especiais (COE) integra o projeto do governo estadual de implantar quatro ou cinco Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) na região até março de 2016.
Os militares da Força de Pacificação, que ocupam a Maré desde 5 de abril de 2014, deixarão as favelas Parque União, Nova Holanda, Rubem Vaz e Nova Maré a partir do início da madrugada. Para a Secretaria de Segurança, é a área mais conflagrada das 16 comunidades, que também são controladas pelas facções Amigo dos Amigos (ADA) e Terceiro Comando (TC) e por milícias.
O plano da PM prevê cercos aos acessos da Maré. As vias expressas que margeiam o complexo (Avenida Brasil, Linhas Amarela e Vermelha) terão policiamento reforçado.
A inauguração da primeira UPP deverá ocorrer em julho, nas comunidades Praia de Ramos e Roquette Pinto, dominadas por milícias. A Força de Pacificação deixará a Maré gradualmente até 30 de junho.
O conjunto de favelas tem 130 mil moradores. Nas quatro comunidades em que haverá a troca de militares por PMs vivem 50.578 pessoas (39% da população local). Dos 160 bairros do Rio, a Maré ocupa a 137.ª posição no Índice de Desenvolvimento Social (IDS), calculado pela prefeitura.
A Secretaria de Segurança do Estado não comentou as críticas à estratégia adotadas na Maré. O Exército informou em nota que "as ações são (...) baseadas na proporcionalidade e no uso progressivo da força com a finalidade de preservar a integridade física do cidadão e da tropa" e que "os meios militares são utilizados de forma seletiva contra os perturbadores da ordem pública, buscando causar os menores transtornos possíveis à grande população da Maré, composta por trabalhadores e famílias que, há décadas, sofrem com a atuação de facções criminosas"..