Um ritual indígena marcou hoje a reivindicação dos guaranis pela permanência na Aldeia Tekoa Itakupe, localizada próximo ao Pico do Jaraguá, região noroeste da capital paulista. Ativistas e jornalistas acompanharam as rezas e um banquete oferecido pela mobilização indígena.
Em reunião marcada para terça-feira, no 49º Batalhão da Polícia Militar, na Vila Clarice, às 13h, as lideranças indígenas se reúnem pela segunda vez com a PM para dialogar sobre a ação de reintegração, que ainda não tem data definida.
A reintegração foi determinada e autorizada pelo Tribunal Regional Federal da 3ª região de São Paulo. A Fundação Nacional do Índio (Funai), porém, pretende recorrer da ação ao Supremo Tribunal Federal (STF). As lideranças guaranis dizem que já há a demarcação do território por estudo antropológico feito pela Funai em 2013 e que falta apenas a assinatura do ministro da Justiça para o reconhecimento.
O território reivindicado pelos guaranis na região do Jaraguá é extenso – 532 hectares divididos entre área de ocupação indígena e de preservação do Parque do Pico do Jaraguá. Porém, apenas 1,7 hectare foi homologado em 1987, a menor terra indígena do Brasil. “Lá está muito amontoado. Tem 130 famílias, são 700 pessoas, metade formada por crianças. E o pior é a crise de água lá”, disse o cacique Ari Augusto Martins, chamado de Karai na língua guarani.
“Em guarani, o nome Karai significa espírito lutador pela vida e pela natureza”, conta o cacique, que foi criado numa aldeia no litoral paulista, na cidade de Itanhaém. Com 15 anos, o índio mudou-se para São Paulo e conta como a urbanização afetou, aos poucos, a vida dos indígenas. “Quando chegamos aqui, só existia a rua turística [acesso ao Pico do Jaraguá]. Depois de dois anos, abriu uma avenida que separou em duas as nossas aldeias. Em 1978, abriu a Rodovia dos Bandeirantes”, lembra.
Hoje, a aldeia homologada com 1,7 hectare fica numa área bastante urbanizada, que praticamente descaracteriza uma terra indígena. O projeto dos índios é fazer uma transferência para a Tekoa Itakupe, que tem território de 720 mil metros quadrados, com vegetação intacta e até acesso a cachoeiras. “O índio precisa de água. O homem branco, quando fica doente procura uma farmácia. Nós tomamos cinco, oito banhos por dia, e é isso o que nos livra das doenças”, disse o cacique.
Antonio Tito Costa, porém, garante que é dono do terreno desde 1947 e que nunca houve índios na região. “Eu me preocupo com a situação de todos os índios do Brasil. Mas não é essa situação que vai me dizer onde os índios têm de ir. A Funai deve saber para onde eles devem ir”, disse à Agência Brasil, no último dia 22, após o encontro com os indígenas.