Ser bom profissional, com conhecimentos técnicos, talento e habilidades, cabe a qualquer pessoa que deseja ter uma carreira bem-sucedida. Mas uma conduta ética no trabalho, seguindo padrões e valores, tanto da sociedade quanto da empresa, é fundamental para o alcance da excelência em qualquer área de trabalho. A questão será um dos temas ministrados pelo professor de ética da Universidade de São Paulo (USP) Clóvis de Barros Filho, durante o 19º Congresso Mineiro sobre Gestão de Pessoas, quarta e quinta, no Minascentro, em Belo Horizonte, sob o título “Ética, alguém viu por aí?”.
A dinâmica do mercado exige dos profissionais atualização e constante aperfeiçoamento. E, nesse processo, postura ética é fundamental. É por meio dela que ganhamos confiança e credibilidade de superiores, colegas e colaboradores.
Mas essa conduta não pode ser definida por regras preestabelecidas pelo mundo corporativo, segundo Clóvis de Barros. Não existe uma ética pessoal e outra profissional. “Defino ética como sendo a inteligência compartilhada a serviço do aperfeiçoamento da convivência. Essa definição me agrada, porque deixa claro que ética não é uma espécie de tabela, regra ou código que define o que pode ou não ser feito, como também não é um mero respeito. Isso significa que, se tiver algo que defina condutas permitidas, você esbarrará em condutas de vida que esbarrarão nas regras. Então, ética é uma certeza de que a convivência tem de ser decidida por meio do uso coletivo no dia a dia.”
Ética é o conjunto de valores morais que conduzem o comportamento humano dentro da sociedade. As organizações seguem os padrões éticos sociais, ao mesmo tempo em que criam suas próprias regras para o bom andamento do trabalho. “Costumo dizer que é o abacaxi que temos de descascar. O abacaxi da convivência ideal, à medida que a vida vai acontecendo. A ética é muito mais do que um documento. Ela é uma disposição permanente de uso coletivo da inteligência, com vistas ao aperfeiçoamento da convivência”, acrescenta o palestrante.
RESPEITO O profissional deve seguir tanto os padrões éticos da sociedade quanto as normas e regimentos internos das organizações, de acordo com Clóvis de Barros. “Tem muito a ver com respeito e honestidade. O respeito, aliás, é o elemento central da ética, porque, no fim das contas, ela é uma luta diária pela preservação dos direitos de convivência. A ética vai representar um problema quando uma pessoa ou um grupo pretenderem, por meio de uma estratégia, alguma coisa que agrida essa convivência.”
O especialista afirma que só o canalha adota tal comportamento. “Uma conduta é canalha quando um agente, com consciência, adota estratégia para satisfazer um desejo pessoal, sabendo que, com isso, vai agredir os princípios de convivência. É óbvio que a ética só é um problema a ser discutido porque a canalhice é uma tentação permanente. Especialmente, no ambiente de trabalho.”
Assim sendo, a ética no mundo corporativo proporciona ao profissional um exercício diário da honestidade na tomada de decisões. Afinal, segundo o professor, a pessoa será reconhecida não só pelo trabalho, mas também pela postura de valores e conduta exemplar.
Líder em qualquer situação
Um cenário de crise e incertezas, como o atual, é marcado pela dúvida e insegurança dos profissionais. O comportamento é considerado natural, uma vez que é consequência do momento delicado do mercado de trabalho. Em um panorama de instabilidade como este, o papel do líder torna-se fundamental, porque é ele quem vai conduzir a sua equipe durante o período turbulento com tranquilidade e ética, sobretudo.
O engenheiro Ricardo Vargas, especialista em gerenciamento de projeto e gerente do Grupo de Práticas de Projetos das Nações Unidas, vai discutir o tema “Liderando pessoas em cenários instáveis” no 19º Congresso Mineiro sobre Gestão de Pessoas. O evento ocorrerá quarta e quinta-feira, no Minascentro.
Segundo o especialista, o grande líder é conhecido em cenários instáveis como o do país atualmente. “O verdadeiro líder se mostra em todas as ocasiões, mas em cenários instáveis é que essa liderança se torna evidente no grupo, porque o cenário instável empurra você contra o muro, rumo ao desafio, rumo ao estresse. E é nessa hora que a capacidade de liderança, a capacidade que você tem de manter o grupo unido, de definir claramente os objetivos, de motivar as pessoas a seguir em frente é evidente.”
Ética, na opinião de Vargas, é uma das principais características do líder. “Um líder deve ter a capacidade de se colocar no lugar das pessoas que estão passando pelo cenário de crise para entender a situação, para entender o que se passa na cabeça dessas pessoas. Se você não tiver a capacidade de se colocar no lugar delas, você não consegue liderar. É muito fácil apontar um cenário de crise quando você não está nele. Então, o que é fundamental? É você ter a capacidade de entender, é ter a humildade de entender que não existe uma verdade única, que em tempos de crise o comportamento das pessoas muda naturalmente”, acrescenta.
O professor de ética da USP Clóvis de Barros Filho, concorda que o líder tem que ter ética. Para ele, o profissional deve seguir tanto os padrões éticos da sociedade quanto as normas e regimentos internos das organizações. “Tem muito a ver com respeito e honestidade. O respeito, aliás, é o elemento central da ética, porque, no fim das contas, ela é uma luta diária pela preservação dos direitos de convivência.”
Liderança, segundo o engenheiro, é característica inerente ao líder. O verdadeiro “comandante” deve inspirar confiança. “É aquele que as pessoas seguem porque elas querem. Elas não seguem porque tem um posto maior, ou porque é o superior. Elas seguem porque tem a capacidade de produzir algo que, para essas pessoas, é relevante e que produz um resultado.”
PARCERIA O engenheiro afirma que não há uma cartilha para ser seguida. “Liderança, para mim, é transpiração. Não é, necessariamente, algo que se aprende no livro. É algo que transpira, é um processo no qual se vai desenvolvendo credibilidade. A grande característica de um grande líder é essa, ter a capacidade de fazer as pessoas acreditarem nele. Confiança não se compra, afinal. Ela é construída”, ressalta.
Outras características apontadas por Vargas, fundamentais para um líder em momentos de instabilidade, são humildade e parceria. “Se não existirem, ninguém constrói nada. A não ser que só trabalhe com máquina. A pessoa tem de entender que trabalhando do outro lado, do seu lado em um determinado projeto ou em um trabalho específico tem uma pessoa com sentimento, que sofre, que sorri, e se ela não conseguir entender isso não consegue produzir resultado nenhum. Vai conseguir produzir apenas desagregação”, atenta.
De uma forma geral, colaboração mútua seria o termo-chave para conseguir superar momentos de instabilidade na avaliação de Vargas. Para ele, ao contrário do que se imagina, parcerias são possíveis e necessárias em ambientes corporativos, que devem ser tratados como a extensão da vida pessoal. “Tenho uma visão bastante diferente. Acho que a vida não se divide em vida profissional e vida pessoal. A vida é a vida que você vive. Então, pessoalmente, detesto aqueles conceitos como work life balance, porque eles colocam como se o trabalho não fizesse parte da nossa vida. Não. A vida e a alegria estão no trabalho. Eu misturo tudo.”
Sinergia entre líderes
Antigo Congresso Mineiro de RH, a 19ª edição ampliou seu conceito, com o objetivo de atrair lideranças de diversas áreas do negócio. E se tranformou em Congresso Mineiro sobre Gestão de Pessoas. O evento vai ocorrer nas próximas quarta e quinta-feiras, no Minascentro, na capital mineira. “Estamos dando um grande passo no sentido de promover maior sinergia entre os líderes da empresa, apresentando tendências e estimulando reflexões que auxiliem ainda em sua relação com os gestores e todos os especialistas desse subsistema”, explica a presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-MG), Cristiane de Ávila. A programação apresenta formatos variados, com palestras, debates, cases e minicursos para contribuir com a atuação do profissional, segundo a dirigente. “Haverá um nível de profundidade maior, aliado sempre à prática. Este ano será um período de desafios e é exatamente por esse motivo que o investimento em pessoas não pode ser adiado. Todos devem estar preparados para encontrar possibilidades e novos caminhos para lidar com todo tipo de contexto, sobretudo os mais adversos.”