A Polícia Civil vai investigar o caso da jornalista Cristiane Damacena, que no último 24 de abril, sofreu diversas ofensas em sua página pessoal no Facebook depois de postar uma foto. A vítima, que mora em Brasília, registrou ocorrência de injúria racial na 26ª Delegacia de Polícia, na Região de Samambaia. De acordo com a polícia, é possível chegar a todos os criminosos que praticam crimes on-line. Só nos últimos três anos, a Secretaria de Políticas para as Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos (Semidh) registrou 944 casos de injúria racial.
O diretor da Divisão de Comunicação (Divicom) da Polícia Civil do DF, Paulo Henrique de Almeida, ressalta a importância de as vítimas procurarem a delegacia de polícia para registrar a ocorrência, o quanto antes. Segundo ele, a investigação de crimes ocorridos pela internet é um pouco diferente e requer mais tempo, pois é preciso vários intermediários para se chegar ao criminoso. “Mas identificamos. Orientamos que as pessoas imprimam a página com os comentários o quanto antes, pois eles são facilmente apagados. Qualquer delegacia do DF está habilitada para receber essas denúncias.”
Depois dos comentários racistas, milhares de pessoas deixaram recados de apoio à jovem. Até o fim da noite de ontem, mais de 12 mil pessoas haviam comentado a imagem. Para movimentos negros, a preocupação é de que os autores dos xingamentos não sejam punidos.
Ativista do movimento negro, Dalila Negreiros teme que o crime contra a jornalista fique impune. Segundo ela, os atos racistas têm sido cada vez mais frequentes nas redes sociais. “O caso da Cris, infelizmente, é apenas mais um. Toda vez que uma pessoa negra é noticiada, há comentários racistas. Temos percebido um aumento grande. Queremos que haja investigação efetiva, principalmente, porque é difícil em casos de crimes na internet”, reclama. Integrante do Nosso Coletivo Negro, Dalila afirma que os grupos dão apoio a Cristiane e acompanharão as investigações. “A mídia deu destaque para a história dela, mas diversas pessoas sofrem isso diariamente e cancelam contas, saem das redes sociais. Não é um caso isolado. Há grupos que se organizam para atacar não só negros como mulheres e gays”, conta.
A secretária adjunta da Semidh, Vera Araújo, afirma que entrará em contato com a vítima para oferecer apoio no processo. Segundo ela, a pasta pretende ampliar o atendimento do Disque-Racismo (156). “Queremos aumentar o alcance das políticas de combate ao racismo. Não podemos aceitar que não aceitem as outras pela cor”, afirma.
Responsável pelo Núcleo de Enfrentamento à Discriminação (NED), o promotor Thiago Pierobom ressalta que a injúria racial é crime e quem a pratica pode ficar até três anos preso. “As pessoas têm a falsa impressão de que podem falar o que querem, especialmente na internet. Mas elas deixam vestígios que ajudam nas investigações.”
Com Kelly Almeida