Manuel Palácios, secretário de Educação Básica do MEC e responsável por coordenar o projeto, disse ao Estado que a perspectiva inicial é de que a base defina 60% do conteúdo. "Queremos deixar um espaço significativo para o desenvolvimento autônomo de redes e escolas", explicou.
Alguns currículos estrangeiros, como o australiano, ditam até 80% do conteúdo. O restante é a parte diversificada, que permite ajustes à realidade local. É possível dar mais ênfase, por exemplo, à Revolução Farroupilha nas aulas de História em escolas gaúchas.
A ideia é indicar apenas objetivos de aprendizagem: quais conhecimentos é preciso ter ao fim de cada ciclo. Mas não devem vir apontados no currículo os caminhos que o professor precisa seguir para chegar a essas metas. Será tarefa da rede, da escola ou do próprio docente escolher essas estratégias.
Para construir esse currículo único, a pasta analisou centenas de propostas de Estados e municípios, além de projetos já feitos pelo próprio MEC.
Cada grupo discute um componente curricular da educação básica - como Arte, Geografia ou Química - e sua especificidade nas quatro etapas: educação infantil, primeiro e segundo ciclos do ensino fundamental, além do ensino médio.
Os grupos têm formação diversa, de especialistas de universidades a docentes das redes locais. Distribuir a discussão pelo País, defende o secretário, é essencial. "Propor a base é propor um pacto federativo."
Segundo Palácios, a primeira versão deve ficar pronta em julho e será submetida a críticas de entidades especializadas. Depois, o documento passará por consulta pública mais ampla e, no início de 2016, será levado ao Conselho Nacional de Educação, que deve fazer nova rodada de discussão. O Plano Nacional de Educação prevê tudo pronto até junho do ano que vem.
Debate
Denis Mizne, da Fundação Lemann, elogia a proporção de 60% de conteúdo obrigatório. "O Brasil é muito diverso e será fundamental que Estados e municípios possam complementar a base comum com conhecimentos e habilidades que julgarem relevantes para as realidades locais", destaca. O fato de não definir de que maneira ensinar, para ele, preserva os espaços de inovação do professor em classe.
Já a especialista em educação Ilona Becskeházy defende que o currículo deveria trazer sugestões de estratégias didáticas. "É fácil dar autonomia para quem é superpreparado. Mas o profissional da educação brasileira geralmente teve uma formação precária", argumenta.
Para Luiz Carlos Freitas, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o risco é de que o currículo seja feito com foco em avaliações educacionais de larga escala, geralmente direcionadas a Matemática e Português. "Não adianta falar de variadas dimensões da aprendizagem, se depois nos concentramos em duas disciplinas e em algumas habilidades", diz.
As informações são do jornal
O Estado de S. Paulo..