Jornal Estado de Minas

Atriz crucificada na Parada Gay diz que não quis afrontar religiosos

De acordo com Viviany Beleboni, a intenção era alertar a população sobre crimes de violência contra a população LGBT: "Uma amiga minha travesti morreu há cinco dias. Ela levou quatro tiros na rua e eu tenho vários amigos que sofrem preconceito"

Correio Braziliense
O deputado federal e pastor Marco Feliciano (PSC-SP) criticou a atitude da modelo - Foto: Reprodução/Facebook
A imagem de uma transexual crucificada na 19ª Parada Gay de São Paulo provocou polêmica entre religiosos e defensores dos direitos LGBTs. A atriz e modelo Viviany Beleboni, 26 anos, desfilou neste domingo, com uma placa onde se lia “basta homofobia”, no trio elétrico da organização não governamental Ação Brotar pela Cidadania e Diversidade Sexual (ABCDS). Personalidades evangélicas consideraram a manifestação ofensiva. Já a ONG e a artista responsável pela performance alegam que o intuito não era criticar qualquer religião, mas chamar a atenção para crimes de homofobia no país. O evento paulista é considerado um dos maiores do mundo e reuniu mais de 2 milhões de pessoas neste fim de semana, segundo estimativa dos organizadores.
Após diversos comentários de artistas e de políticos evangélicos nas redes sociais, o Diretório Regional do Distrito Federal do Partido Trabalhista Nacional (PTN) informou que vai protocolar ação no Ministério Público Federal pedindo que a Associação da Parada do Orgulho GLBT seja investigada por crime de injúria. Uma prévia do texto afirma que “o descaso com a imagem de Jesus Cristo desrespeitou princípios basilares da fé Cristã”. De acordo com o presidente regional do partido, o deputado distrital Rodrigo Delmasso (PTN-DF), o objetivo é verificar se houver uso de dinheiro público no que ele chamou de “promoção de intolerância religiosa”. No entendimento do parlamentar, que é evangélico da Sara Nossa Terra, a manifestação poderia ter sido feita de outra maneira. “Estão colocando que os cristãos são homofóbicos. Quem está sendo intolerante e discriminatório não somos nós”, afirmou.

A Associação da Parada do Orgulho LGBT recebeu cerca de R$ 1,3 milhão da prefeitura de São Paulo para diversas atividades realizadas entre 7 de maio e 7 de abril, incluindo o evento de domingo. De acordo com o presidente da associação, Fernando Quaresma, a programação contou também com recursos do governo do estado de São Paulo e apoio das Petrobras e da Caixa Econômica Federal, totalizando cerca de R$ 2 milhões, porém sem transferência de verba direta do governo federal. Quaresma afirmou, ainda, que o trio polêmico não era vinculado à organização e criticou a ausência da presidente Dilma Rousseff no evento cujo objetivo é reforçar a luta por direitos LGBT. “Desde 2011, ela nunca compareceu. Já foi a atos religiosos, mas nunca compareceu à parada, que é a maior do mundo, dentro do país que ela governa. Ela deveria ser mais participativa”, afirmou.

Homofobia


De acordo com Viviany Beleboni, a intenção não foi afrontar religiosos, mas alertar a população sobre crimes de violência contra a população LGBT e mostrar o estado em que ficam as vítimas de homofobia e transfobia. “Uma amiga minha travesti morreu há cinco dias. Ela levou quatro tiros na rua e eu tenho vários amigos que sofrem preconceito. Eu inclusive fui colocada para fora de casa”, conta. A atriz e modelo trabalha com performances desde os 18 anos e participou da parada outras vezes. Ela conta que tem uma marca na cabeça de agressões que sofreu na escola e que ontem chegou a receber ameaças de morte por telefone.

Em 2014, foram registradas 1.013 denúncias de homofobia pelo Disque 100, serviço da Secretaria de Direitos Humanos. São Paulo é o estado com maior número de casos. Foram 150, o equivalente a 24,68% do total no país. Marcelo Gil, da diretoria de denúncias da ABCDS, lembra que muitos casos ficam sem solução, como o jovem morto no banheiro do metrô Jabaquara em setembro do ano passado. “As travestis são violentadas, agredidas e exterminadas. Quando você pega um crime de homofobia e transfobia, os requintes de crueldade são os piores”, afirma. Um projeto de lei que tornava esses atos crime foi arquivo no Senado em janeiro. Agora uma das opções é votar uma proposta da deputada Maria do Rosário (PT/RS) que tipifica crimes de ódio e intolerância contra diferentes grupos.