São Paulo, 30 - Agentes penitenciários vestem toucas para cobrir o rosto e usam balas de borracha e gás pimenta para "controlar" os presos, o banho de sol acontece uma vez por semana e os detentos em celas superlotadas recebem roupas limpas a cada seis dias. Depois de se tornar conhecido após o registro de 60 mortes em um ano e, até mesmo de decapitações, este é o atual cenário encontrado no complexo prisional de Pedrinhas, em São Luís, no Maranhão.
O governador Flávio Dino (PCdoB) admitiu que a situação não é "perfeita", mas disse que faz parte do processo de "retomada do controle" do presídio que, segundo ele, até o ano passado era comandado não pelo Estado, mas pelas duas principais facções do Maranhão, o Primeiro Comando do Maranhão (PCM) e o Bonde dos 40. "Por enquanto, estamos em um modelo de transição, mas ainda não conseguimos quebrar totalmente o poder das facções."
Quatro entidades de proteção aos direitos humanos visitaram o presídio nos dias 9 e 10 de junho e constataram diversas violações no local. Essa é a primeira visita do grupo ao complexo em 2015. Só nos primeiros seis meses do ano, foram registrados quatro homicídios e 14 fugas no local.
O problema de superlotação ainda foi "ampliado", segundo Dino, por causa do aumento de 10% da população carcerária do Maranhão no primeiro semestre deste ano. Em junho, Pedrinhas estava com 2.601 presos, 45% a mais do que a sua capacidade (1.786 vagas).
Denúncias
De acordo com o relato das entidades, a única divisão respeitada no presídio atualmente é a das facções. Presos de diferentes regimes, idades e gravidade de crimes estão todos juntos. "Quem escolhe a lógica de funcionamento do presídio ainda são as facções", disse Rafael Custódio, coordenador da Conectas Direitos Humanos.
Para Custódio, a tentativa de recuperar o "controle" e reduzir as mortes ocorre por meio de ações violentas do próprio Estado. Na visita, as entidades encontraram cápsulas de balas de borracha e marcas de tiros nas paredes. Os detentos relataram que são agredidos pelos agentes terceirizados do presídio com cassetetes e que é comum o uso de gás pimenta dentro das celas - sendo essa a forma de "avisar" os presos para saírem para o banho de sol. "Eles aproveitam dessa 'invisibilidade' (das toucas que encobrem os rostos) para agredir e torturar os presos, sob alegação de que estão protegendo a própria segurança", diz Custódio.
Reestruturação
O governador afirma que a reestruturação do sistema depende de duas medidas preparatórias: o fim da terceirização dos agentes penitenciários e a abertura de novas vagas em presídios. Quatro unidades serão construídas até o fim de 2016, além da reforma de ampliação de quatro presídios. Duas das reformas estão prometidas ainda para este mês, segundo Dino.
As informações são do jornal
O Estado de S. Paulo..