São Paulo – A ação de grupos armados entre a noite de quinta-feira e a madrugada de ontem, na Região Metropolitana de São Paulo, que resultou na morte de 18 pessoas, das quais 12 não tinham passagem pela polícia, e deixou outras sete feridas, desencadeou uma onda de terror na região. Os crimes ocorreram dentro de um raio de 7km. O número de mortos e feridos foi confirmado ontem pelo secretário da Segurança Pública, Alexandre de Moraes – inicialmente, a polícia havia divulgado 19 mortes, com um assassinato em Itapevi. Segundo ele, foram 15 vítimas em Osasco e três em Barueri.
Entre as vítimas, cinco tinham antecedentes criminais, de acordo com o governo do estado. Segundo o secretário, uma força-tarefa com 50 policiais está atuando nas investigações do caso. “É um fato grave e será investigado de forma diferenciada”, disse. “Não descartamos nenhuma hipótese.” Cápsulas de três diferentes calibres de armas foram encontradas próximo aos corpos: 9 mm (de uso da Polícia Militar) e 38 e 380, de uso de guardas civis metropolitanos. Alexandre Moraes informou que uma imagem do automóvel usado pelos criminosos em Osasco, registrada por uma testemunha. Pode ajudar nas investigações. Pelo menos seis pessoas participaram das mortes na cidade.
As ações foram semelhantes. Homens encapuzados e usando coturnos estacionaram um carro, desembarcaram e dispararam vários tiros contra as vítimas. Em alguns locais, testemunhas disseram que os assassinos perguntaram por antecedentes criminais dos alvos, o que definia vida ou morte das pessoas. Para o secretário, perguntar sobre o passado criminal e usar coturno é “típico de quem quer fingir que é um policial”.
Em Osasco, no Bairro Munhoz Júnior, uma chacina deixou 10 mortos em um bar, por volta das 20h30. Quatro das vítimas morreram no local e outras seis no Hospital Jardim Mutinga. Cinco horas depois, quando a reportagem passou pelo local, vários moradores ainda olhavam assustados a cena do crime. Um homem que não quis se identificar disse que uma das vítimas trabalhava como auxiliar de indústria e costumava parar no bar para tomar um conhaque antes de ir para casa. Outra moradora falou que um dos baleados morreu sentado na cadeira, do lado de fora do estabelecimento.
No local, espantado diante da cena, um dos peritos da Polícia Civil disse: “Nunca vi uma noite com tantos mortos em São Paulo”. Várias equipes trabalharam durante toda a madrugada na investigação. Ainda em Osasco, mas desta vez no Jardim Elvira, um jovem foi morto em frente a uma sorveteria. Três parentes gritavam e se abraçavam de desespero próximos ao corpo da vítima.
TOUCAS NINJAS Na vizinha Barueri, duas pessoas foram mortas a tiros também em um bar, no Parque dos Camargos. O dono do estabelecimento disse que cerca de 10 pessoas estavam no local, quando quatro homens, com toucas ninjas, desembarcaram de um carro. Da mesma forma, perguntaram quem tinha passagem pela polícia e atiraram em duas pessoas. O restante dos clientes fugiu do local. As imagebns das câmeras de segurança do bar foram entregues à Polícia Civil.
Ainda em Barueri, outro homem foi assassinado na Vila Engenho Novo. Testemunhas disseram à Guarda Civil Municipal que ocupantes de um carro preto dispararam vários tiros contra a vítima. Segundo a GCM, após a vítima cair no chão, os assassinos desembarcaram do carro e foram se certificar se ele estava morto.
Famílias das vítimas foram ao Instituto Médico Legal (IML) de Osasco para liberar os corpos na manhã de ontem. Em desespero, os parentes se diziam revoltados com a falta de segurança em seus bairros e afirmavam que seus familiares não tinham qualquer ligação com o mundo do crime.
AÇÃO ‘GRAVÍSSIMA’ O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), cancelou todos os compromissos marcados para ontem para se reunir com o secretário de Segurança Pública, Alexandre de Moraes. À tarde, Alckmin esteve na Delegacia Seccional de Osasco para acompanhar os trabalhos de investigação. “Vamos esclarecer o mais rapidamente possível”, disse. O governador garantiu segurança nas cidades onde houve os ataques, classificou a ação de “gravíssima” e prestou solidariedade às famílias das vítimas. Já o prefeito de Osasco Jorge Lapas (PT) disse que é necessário um esforço conjunto entre as administrações municipais e a Polícia Civil para as investigações sobre a série de ataques. “É hora de nos unirmos para esclarecer logo essa situação.”