Com a filha Yasmin no colo, Camila Ferreira já dava sinais de cansaço. Eram 9 horas da quinta-feira, o movimento dos médicos no Hospital Universitário Oswaldo Cruz, no Recife, estava ainda engrenando, mas a jornada da mãe e da filha, com suspeita de microcefalia, já tinha começado havia tempo.
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Governo muda critério de microcefaliaRN decreta estado de emergência por causa da microcefaliaEstado do Rio registra 23 casos de microcefaliaCasos suspeitos de microcefalia chegam a 1.761; país investiga 19 mortesAli, o movimento é intenso durante toda a semana. No dia anterior, por exemplo, o serviço havia atendido 15 crianças com suspeita da má-formação.
Há um mês, os registros de microcefalia não chegavam a 50 no Estado. Agora, passam a casa dos 600. A suspeita, em análise, é de que as infecções por zika de alguma maneira ampliam os riscos de microcefalia - em todo o Pais, são 1.248 casos suspeitos.
A maioria das mães acorda ainda de madrugada para aproveitar o transporte gratuito. Ficam horas à espera do atendimento em hospitais.
Descentralização. Diante dessa situação, o governo do Estado decidiu descentralizar o atendimento. A partir desta semana, de dois serviços especializados, Pernambuco passará a contar com 23. "Mas está tudo só começando", alerta Angela. "As demandas serão inúmeras e, com o tempo, virão mais."
"A tendência é chegar a uns 2 mil casos até o fim do ano. E nada indica que 2016 será muito diferente.
Diante dessa necessidade, o sistema de saúde terá de ser adaptado. Uma das providências consideradas essenciais é criar programas de acompanhamento psicológico para pais das crianças. Em alguns locais, isso vem sendo feito de forma espontânea. "Mas é preciso mais", avalia Dimech.
A movimentação no ambulatório na quinta-feira revelava um pouco essa necessidade. Embora repleto de pacientes, o silêncio era marcante na sala de espera. "Não se vê aquele burburinho típico quando se reúnem pais e bebês", observa Maria Lucia da Silva, que acompanhava a sobrinha no hospital.
Paulo Portela, pai de Helena, que nasceu no dia 5 de outubro, sonha com um serviço de assistência para sua mulher, Nicole. "Ela está mais quieta, chora bastante. Acho que iria ajudar."
Falando pouco e em um tom quase inaudível, Nicole mostra resistência.
A má-formação foi identificada quando a gestação caminhava para o sexto mês. "Vou fazer de tudo para que ela tenha uma vida feliz. Filho é tudo que a gente deixa nesta vida", sentencia Paulo, de 21 anos. Quando Nicole, de 22, engravidou, o casal decidiu interromper os estudos.
Portela diz que não se incomoda quando as pessoas chegam, curiosas, para ver a bebê. "O que não gosto é da cara de pena que uns fazem. Ela é minha filha e terá todo amor que um pai pode dar.".