As obras de restauro na Igreja de Nossa Senhora da Candelária, em Itu, interior de São Paulo, revelaram pinturas feitas há mais de duzentos anos com uma técnica incomum no barroco brasileiro. Além do douramento tradicional, os autores usaram delicadas folhas de prata para compor as obras. Construída em 1780, a Candelária é considerada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) a maior igreja barroca do Estado de São Paulo.
De acordo com o restaurador Julio Moraes, contratado pelo Iphan para a obra, a quantidade de prata usada no altar-mor não se encontra em outro lugar do País. Segundo ele, a remoção das camadas de repintura mostrou que a capela-mor tem a totalidade das suas superfícies intensamente policromadas e douradas, um luxo raro nas igrejas coloniais paulistas. O trabalho em prata, no entanto, ainda era desconhecido e enriquece o conjunto.
O achado chamou a atenção do historiador Carlos Gutierrez Cerqueira, pesquisador do Iphan, que esteve na cidade para estudar a obra. Ele identificou na capela-mor a assinatura de Mathias Teixeira da Silva, nome até então desconhecido, e a data de 1788. De acordo com Cerqueira, o altar-mor e dois grandes altares laterais são, provavelmente, de Bartolomeu Teixeira Guimarães, que trabalhou com José Patrício da Silva Manso, autor da pintura do forro e mestre de Padre Jesuíno de Monte Carmelo, expoente da arte sacra paulista.
Nas paredes laterais do altar-mor, que estavam pintadas de branco, foram encontradas pinturas em tons de azul, com cenas do Velho Testamento, feitas por Mathias Teixeira, emoldurando as já conhecidas telas de Padre Jesuíno. Para o historiador do Iphan, as pinturas e douração de Silva Manso sobre os entalhes em madeira de Guimarães elevam a arte de Bartolomeu ao patamar do que se produzia, na mesma época, em Portugal. As obras se tornaram visíveis com a retirada dos andaimes e tapumes no último fim de semana.
Os restauradores já haviam descoberto várias pranchas policromadas provenientes de um forro, provavelmente pintadas por Jesuíno - nesse caso, as pinturas eram originais, não haviam sido cobertas por outras tintas. "Além de todos os benefícios de uma restauração desta amplitude, também se configura um panorama até então desconhecido, com Itu como importante centro de produção artística no século 18, e revelam-se obras inéditas que vêm reconstruir a história colonial do Estado de São Paulo", registrou o Iphan sobre os achados.
O restauro é realizado com apoio da Lei Rouanet, com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social e da prefeitura de Itu.
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