De acordo com a associação que representa os pacientes, há 850 pessoas com fibrose cística cadastradas nas sete farmácias de alto custo no Estado. Faltam remédios em seis unidades: São Paulo (2), Campinas, Ribeirão Preto, Botucatu e São José do Rio Preto. Remédios básicos, ingeridos diariamente, estão na lista dos faltantes nas farmácias de alto custo e não são vendidos no Brasil. É o exemplo das Enzimas Pancreáticas - de nome comercial Creon -, que auxiliam na absorção dos nutrientes, e do Dornase Alpha (Pulmozyme), inalatório que fluidifica o muco instalado nos pulmões dos pacientes, evitando infecções bacterianas. Fora do País, uma caixa do Pulmozyme para consumo mensal chega a custar cerca de US$ 3 mil (aproximadamente R$ 12 mil).
Segundo a chefe do ambulatório de fibrose cística da Santa Casa, Nívea Damaceno, faltam medicamentos desde dezembro. Ela diz que, sem os remédios, vai aumentar o número de internação por desnutrição e dificuldades respiratórias.
"A falta de medicamento agrava muito a qualidade de vida e a sobrevida desses pacientes, que já é limitada pela própria doença. O que mata na fibrose cística são as complicações respiratórias. Sem o medicamento, você está expondo e deixando de tratar o conjunto", explicou. "Estamos vivendo uma onda em que falta quase tudo e, quando chega, o número é insuficiente para a demanda".
O jornal O Estado de S.Paulo telefonou nesta quarta-feira, 10, para a farmácia do Ambulatório Médico de Especialidades (AME) Dr. Geraldo Bourroul, onde foi informado que faltavam o Creon e o Pulmozyme. A atendente disse que estavam "aguardando entrega", mas não deu prazo para recebimento.
Depende das medicações dessa farmácia o paciente da Santa Casa, Gabriel, de 13 anos, filho da gerente de marketing Paola Massari, de 48. A cota mensal de remédios do jovem chega ao fim neste sábado e Paola não tem perspectiva de quando terá as medicações em mãos. Ela conta que, em 13 anos, nunca faltaram tantos remédios para fibrose cística simultaneamente.
"A alfadornase é um remédio inalatório que fluidifica o muco, a pessoa tosse e o muco sai. Esse é diário. Se falta esse remédio, é complicado porque é um foco de bactéria pulmonar. É um problema sério. E é a primeira vez que começa a faltar desse jeito", afirmou. Paola explica que pacientes cadastrados em uma farmácia não podem retirar medicamentos em outra unidade, o que dificulta a busca.
Mãe de João Pedro, de 12 anos, a jornalista Suzana Dias reforça que, desta vez, a falta de medicamentos é "atípica".
O caso de Suzana é ainda mais grave porque, diferentemente de Paola, ela não conseguiu pegar a cota de janeiro. Com a falta dos medicamentos, vai continuar sem os remédios em fevereiro. Tal como Gabriel, o filho João Pedro é paciente da Santa Casa e, portanto, também tem cadastro na farmácia do AME Dr. Geraldo Bourroul.
"O que fiz foi perguntar à farmacêutica se ela não poderia solicitar um empréstimo de outra farmácia. Ela fez isso uma vez no ano passado. Pediu, na ocasião, algumas caixas de alfadornase e consegui assim. Dessa vez, ela me disse que pediu emprestado nas outras duas, mas eles estavam com estoques baixos e não emprestaram", afirmou.
Levantamento realizado no dia 2 de fevereiro pela Associação Paulista de Assistência à Mucoviscidose (APAM), representante dos pacientes, apontou falta de medicamentos em seis das 7 farmácias de alto custo que fazem distribuição para pacientes com fibrose cística. O caso mais grave é o da farmácia com pacientes do Hospital São Paulo: são 10 medicamentos faltantes. Segundo a pesquisa da APAM, são 14 medicamentos faltantes no total de farmácias.
"Com a falta desses medicamentos, as crianças serão obrigadas a ser internadas.