Mobilização de combate ao mosquito da dengue tem pouco efeito na capital mineira

Moradores do Bairro Nova Vista, na Região Leste de BH, criticam que mobilização nacional de ontem contra o Aedes aegypti não surtiu efeito e cobram medidas mais efetivas do governo

Luciane Vidigal - Especial para o EM
Um dia depois de a mobilização nacional de combate ao Aedes aegypti passar por Belo Horizonte, a realidade no Bairro Nova Vista, na Região Leste de BH, continua a mesma.
No sábado, quando 220 mil militares e o alto escalão do governo federal se mobilizaram país afora, o bairro, com alto índice de infestação do mosquito, recebeu a visita do ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, do prefeito da cidade, Márcio Lacerda, de agentes sanitários e de militares do Exército, que distribuíram panfleto sobre os cuidados com o inseto. Vinte quatro horas depois da passagem ilustre, moradores dizem que não houve efeito. Temem o Aedes e cobram ações efetivas do poder público


A 50 metros de onde discursou o ministro Nelson Barbosa e também o prefeito da cidade, moradores não viram nem sabiam que, ali, houve mobilização. Às 9h do sábado, as duas autoridades, em um encontro com agentes sanitários e a imprensa, discursaram dentro do posto de saúde São José Operário. A unidade, inclusive, chegou a ser pintada às pressas para a chegada de Barbosa. No bairro já são 183 casos notificados este ano, sendo 27 confirmados para a dengue. Na Região Leste, até ontem, havia 375 confirmações.

Na capital mineira, já são 2,3 mil casos e duas mortes causadas pelo Aedes.

Ontem, Flávia Mendes da Silva, de 30 anos, que mora a menos de 50 metros do posto, disse que soube da campanha e não viu resultados. Inclusive, sua filha de 1 ano teve dengue na semana passada e a unidade de saúde, a mesma que o ministro visitou, não atendeu a menina por falta de pediatra.

“A única coisa que fizeram foi me mandar ir para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), onde nem sequer fizeram o teste na minha filha. Tive que ir para o hospital infantil estadual, para então tratá-la. Não adianta virem aqui e entregar papel para nós, isso vai virar sujeira na rua. Precisamos, mesmo, de ações efetivas e de melhores atendimentos”, cobra, contando que, no sábado, no mesmo dia da mobilização, ela começou a sentir dor de cabeça e no corpo. “Quase todos os meus vizinhos estão ou tiveram dengue. Está ruim demais.”

DE FORMA PONTUAL A crítica de Flávia é a mesma de especialistas, conforme o Estado de Minas mostrou na edição de ontem. Segundo o infectologista Carlos Starling, “panfleto não mata mosquito”. Ele cobra a estruturação do Sistema Único de Saúde (SUS) para o enfrentamento do problema. “Não é de uma forma pontual que solucionamos esse desafio de décadas. Vivemos uma epidemia da maior seriedade. Temos tecnologia que poderia ser usada nesse combate”, comenta.

No sábado, militares da Aeronáutica, Exército e Marinha percorreram, segundo o governo federal, 3 milhões de casas no país. Em Minas, foram 11 mil soldados envolvidos.
A intenção da mobilização era informar a população sobre o mosquito-da-dengue, mas, conforme lembrou o infectologista Antônio Carlos Toledo, o problema da dengue não é a informação. “Os moradores estão conscientes, mas o resto eu não sei”, comenta a vendedora e moradora do Bairro Nova Vista Neide Azevedo, de 56. No sábado, ela não estava em casa e também não teve informação de como foi a passagem do ministro pela sua rua.

Neide é transplantada e tem muito medo de ser picada pelo Aedes. “Aqui, na nossa rua, ninguém veio”, comenta Eduarda Neves, que não recebeu panfleto no sábado nem a visita de militares. Porém, na última semana, ela teve dengue, assim como a sua mãe. Ambas moram a menos de 50 metros do posto de saúde. “Também soube dessa mobilização por aqui, mas não vieram à minha casa. Estamos tendo muito cuidado, mas a consciência tem que ser de todos”, afirma Bianca Silva, de 18,  moradora do Bairro Nova Vista.

 

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