Uma fazenda de 1 mil hectares no Mato Grosso vai abrigar o primeiro santuário de elefantes da América Latina. As obras para preparar o local, que fica na cidade de Chapada dos Guimarães, a 40 quilômetros do parque nacional que leva o mesmo nome, já começaram, mas ainda faltam as licenças ambientais para que ele de fato possa acolher os animais. Semana passada, um primeiro lote de tubos de aços que serão usados para cercar toda a área onde os animais ficarão chegou à fazenda. O projeto prevê ainda a construção de um galpão para servir de centro veterinário e um local de tratamento. Os recursos para a compra do terreno e a construção da estrutura vêm de doações feitas pela organização não governamental Santuário dos Elefantes, que conta com o apoio de outras duas ONGs internacionais dedicadas à proteção dos paquidermes em todo o mundo, a Global Sanctuary for Elephants e a ElephantVoices. Uma campanha nas redes sociais no Brasil e nos Estados Unidos está em busca de mais recursos para concluir o projeto.
Para o santuário, podem ir Maya e Guida, duas elefantas que vivem há cinco anos em Paraguaçu, no Sul de Minas, e Ramba, outra fêmea, que vive em um zoológico no Chile. As elefantas que vivem no Brasil eram artistas de um circo de renome nacional e perderam seus empregos por causa da proibição da exibição de animais no Espírito do Santo. Vítima de maus-tratos, Ramba foi retirada pela Justiça chilena de um circo e está sob custódia de um zoológico.
Segundo a fotógrafa e ambientalista Júnia Machado, que coordena o projeto do santuário, existem no Brasil cerca de 25 elefantes em zoológicos e sete em circos. Em toda a América Latina, segundo ela, são 50 animais em cativeiro. No mundo inteiro, seriam aproximadamente 5 mil elefantes confinados em diferentes tipos de estabelecimentos. “Estamos nos preparando para receber todos os animais da América Latina, já que a tendência é que a exibição de animais em circos seja proibida em todo o continente.” Mas esses números podem ser menores, já que nem sempre os zoos comunicam os órgãos ambientais da morte dos animais e nem todo circo declara a existência de animais silvestres, como determina a legislação, afirma a ambientalista. No Congresso nacional, tramitam 16 projetos proibindo apresentações de animais silvestres em circos, mas todas as propostas estão paradas.
Para Júnia Machado, apesar da demora, a proibição deve ser aprovada não só no Brasil, mas em todo o continente, por isso a necessidade de garantir um espaço decente para que esses animais possam ficar em paz “pelo menos no fim da vida”. Segundo ela, além disso, muitos zoos estão procurando por ajuda para tratar desses animais em função de corte de verbas e falta de condições para abrigar essas espécies, que precisam de grandes espaços para sobreviver. Os elefantes em seu hábitat natural pastam 20 horas por dia e percorrem, no mesmo período, uma extensão de aproximadamente 18 quilôme-tros. Júnia alega que as elefantas de Paraguaçu estão debilitadas e no fim da vida.
África A ambientalista conta que sempre gostou de elefantes, mas que se apaixonou mesmo por eles depois de passar uma temporada no Quênia, na África, desenvolvendo um projeto de fotografia sobre os animais e o comércio de marfim. “Depois resolvi visitar alguns zoos para complementar o projeto e fiquei chocada com as condições da Terezita, que vive no zoológico de São Paulo. Passei a visitar outros zoológicos e circos e vi que a situação era a mesma.” Ela então procurou a Global Sanctuary for Elephants e começou uma parceria para transformar em realidade o projeto do santuário. A ONG está fazendo uma campanha nas redes sociais para arrecadar fundos para terminar a primeira fase do projeto de implantação.
A organização também corre contra o tempo para acelerar a liberação das licenças ambientais. O processo já está em tramitação na Secretaria Estadual do Meio Ambiente do Mato Grosso. No início deste mês, Júnia Machado esteve na secretaria para mais uma reunião sobre o projeto. Segundo Carlos Ferraz, engenheiro agrônomo que também milita na implantação do santuário, o projeto já conseguiu a aprovação pelo estado do estudo de viabilidade. “Estamos agora preparando a documentação que falta para conseguir as licenças. A fazenda foi enquadrada como ‘mantenedora da vida selvagem’”, afirma Carlos. Júnia e Carlos estimam que as licenças definitivas devam estar liberadas até o meio deste ano. A intenção inicial é não abrir o espaço para visitação. A exemplo de um santuário que existe nos Estados Unidos, e é considerado modelo no mundo, a proposta é deixar os animais soltos e criar um sistema de monitoramento eletrônico para acompanhá-los em tempo real..