Dor, tristeza, indignação, solidariedade, clamor por justiça.... O sofrimento da adolescente de 16 anos estuprada por mais de 30 homens em uma favela do Rio de Janeiro correu o mundo e despertou os mais diversos sentimentos de repúdio à barbárie, principalmente porque os próprios criminosos divulgaram imagens da vítima logo depois do ataque. A cada novo detalhe do crime, mais protestos nas ruas e nas redes sociais e mais cobrança por empenho das autoridades, prometem agir com rigor, desde os delegados responsáveis pela apuração até o presidente da República, que assmiu o compromisso de criar uma delegacia na Polícia Federal para combater a violência contra a mulher. Muito abalada pela tamanha brutalidade, a jovem prestou novo depoimento ontem e fez desabafo pelo Facebook. “Realmente, pensei que seria julgada mal. Mas não fui. Não, não dói o útero e sim a alma por existirem pessoas cruéis sendo impunes!! Obrigada pelo apoio”, disse a garota. Além de protestos ontem, como os registrados no Rio e em São Paulo, outras manifestações estão marcadas para várias capitais na quarta-feira, inclusive em Belo Horizonte.
Desde que o caso veio à tona, as redes sociais foram inundadas por campanhas de combate à violência sexual contra mulheres, algumas com a frase “Eu luto pelo fim da cultura do estupro”.
“É um absurdo que em pleno século 21 tenhamos que conviver com crimes bárbaros como esse”, escreveu o presidente em exercício Michel Temer. A ministra do Supremo Tribunal Federal Cármen Lúcia, que vai assumir a Suprema Corte em setembro, também se manifestou: “Não pergunto o nome da vítima: é cada uma e todas nós mulheres e até mesmo os homens civilizados, que se põem contra a barbárie deste crime, escancarado feito cancro de perversidade e horror a todo mundo”. E concluiu: “Nosso corpo como flagelo, nossa alma como lixo. É o que pensam e praticam os criminosos que haverão de ser devida e rapidamente responsabilizados”. No Congresso, a bancada feminina prepara nota de repúdio ao estupro coletivo da adolescente. O manifesto será lido nos plenários do Senado e da Câmara dos Deputados na terça-feira.
A repercussão do estupro coletivo ultrapassou a fronteira do país. Jornais de todo o mundo noticiaram o caso, que provocou uma onda de revolta. O The Times of India afirmou que o caso é a crise de ‘Nirbhaya’ brasileira, em alusão ao estupro coletivo dentro de um ônibus que terminou com a morte da vítima, em 2012, em Nova Déli. A reportagem afirma que o crime contra a brasileira aconteceu a menos de dois meses do início da Olimpíada e destaca a repercussão nas redes sociais. “Apesar de os crimes sexuais não serem incomuns nas favelas, onde gangues armadas operam e, muitas vezes, têm como alvo vítimas inocentes, a brutalidade deste caso chocou completamente o país.
A inglesa BBC News afirmou que a divulgação do vídeo com o estupro coletivo da adolescente chocou o país e provocou uma campanha contra a cultura do estupro nas redes socais. A reportagem também lembra que a ONU Mulheres divulgou comunicado condenando o crime e pedindo investigação. O caso também foi destaque no Metro, do Reino Unido. O jornal pôs o crime do Rio como manchete de seu site e usou uma imagem da Favela da Rocinha, na Zona Sul, para ilustrar a reportagem. O texto fala que a polícia busca os acusados, entre eles, o namorado da menina.
O El País, da Espanha, destacou as mais de 800 denúncias recebidas pelo Ministério Público após a divulgação do vídeo e relembrou o estupro de um grupo de adolescentes no Piauí, em 2015. “Ocorre uma violência (sexual) a cada 11 minutos no Brasil, segundo o 9º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, cujos dados mais recentes são de 2014”, diz a reportagem. (Com agências).