Moradora de uma favela perto da Avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini, no Campo Belo, na zona sul, a mãe questionava: "Como ele (o policial que deu um disparo na cabeça do menino) não viu que era uma criança, meu Deus? Ele não tem filho?"
A mãe contou que o filho morava com a avó paterna e que havia abandonado a escola neste ano. "Ele estava andando muito na rua, mas não tinha arma. Quero que façam exame da digital na mão dele", afirmou, referindo-se ao exame residuográfico, capaz de detectar registros de pólvora e indicar se ele chegou a fazer disparos com revólver. Ela disse acreditar que os policiais tenham plantado a arma na criança.
Chorando muito, ela falou com jornalistas em espasmos de desabafo, enquanto aguardava a liberação do corpo.
O desespero da mãe era acompanhado da revolta dos familiares que a ajudavam. Um tio do menino, que não quis dar o nome, também falou. "A gente sabe como é as coisas onde a gente mora. Todo mundo sabe. Todo mundo ali sabe que ninguém daria uma arma para um menino de 10 anos", disse. "Tem consequência. Então, não tinha como ele ter uma arma."
A família contou que o menino tinha uma caixa de engraxates e que, às vezes, ia até o aeroporto ver se conseguia algum dinheiro. "Os meninos lá só querem ficar na lan house, por isso ele queria dinheiro", afirmou o tio.
Embora tenha reconhecido que o menino não estudava e vivia na rua, a mãe negou que ele já tivesse cometido crimes. Há, entretanto, dois boletins de ocorrência registrando furtos anteriores praticados pelo filho, em janeiro e em abril deste ano.
A mãe disse ainda que o pai da criança, de quem é separada, estava viajando - sem dar detalhes, disse que a família mantinha bom relacionamento.
Até o início da tarde desta sexta-feira, 3, o corpo estava no IML. A família ainda não sabia onde seria o enterro..