Somente no Piauí, entre maio e junho, no intervalo de 30 dias, foram três ocorrências de estupro coletivo. E eles ocorreram cerca de um ano depois de um caso de extrema crueldade, quando quatro jovens, em maio do ano passado, na cidade de Castelo do Piauí, foram estupradas, espancadas e jogadas de um penhasco. Uma delas não resistiu aos ferimentos e morreu. Em 2012, outro caso de extrema violência coletiva contra mulheres, na Paraíba, também chocou o Brasil e originou a CPI da violência contra a mulher, a terceira já realizada pelo Congresso.
De lá para cá, os registros só aumentam. Mas essas histórias reveladas são pequenas ainda perto da violência de que são vítimas mulheres em todo o Brasil, já que o estupro é uma das formas de violência mais subnotificadas no mundo inteiro. De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, os casos registrados correspondem a apenas 35% do total de estupros. Ano passado, foram notificados 47,6 mil casos no Brasil, o que corresponde a uma ocorrência a cada 11 minutos. E a maioria das vítimas é crianças e adolescentes. Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgado em março do ano passado, revela que 88,5% das vítimas desse tipo de violência eram do sexo feminino, mais da metade tinha menos de 13 anos e 70% das vítimas eram crianças e adolescentes.
Para Jeanete Mazzieiro, secretária Executiva do Fórum de Mulheres do Mercosul e integrante do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM), o estupro sempre aconteceu e sempre foi escondido, já que a vítima e até a família muitas vezes se sentem envergonhadas e com medo de denunciar. Segundo ela, além disso, ainda é complicado fazer a denúncia, nem sempre tem delegacias especializadas e não existe um protocolo padrão de atendimento às vítimas. “Tudo isso dificulta mais ainda que essa odiosa violência contra a mulher seja denunciada”, afirma Jeanete, que cobra legislação mais eficiente para punir esse tipo de crime.
PROTOCOLO
Com a repercussão do caso do Rio de Janeiro, o Congresso Nacional resolveu se mexer. Foi criada uma comissão externa para apurar os casos mais recentes, entre ele o de Bom Despacho, interior de Minas, onde uma estudante foi estuprada em um congresso, e também as denúncias do Piauí. A comissão está acompanhando as investigações e pretende, ao final, propor mudanças na legislação. Segundo o deputado federal, delegado Edson Moreira (PR-MG), a intenção é criar um protocolo padrão, que já existe no Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul e que está sendo implantado no Piauí, e garantir que seja colocado em prática. Segundo Moreira, será considerado agravante o uso de álcool ou outras substâncias para dopar a vítima e a prática desse tipo de violência por mais de uma pessoa.
De acordo com a deputada Jô Moraes (PCdoB), muito do que vem sendo discutido já tinha sido proposto pela CPMI da Violência contra a Mulher, mas não saiu do papel.
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