Duas pessoas foram ouvidas em Varginha (Sul de Minas) na Operação Hashtag, deflagrada pela Polícia Federal na quinta-feira, para investigar suspeitos de articular ataques terroristas no Brasil durante a Olimpíada do Rio de Janeiro. As duas pessoas (que seriam um casal) foram alvo de um mandado de busca e apreensão e foram liberadas duas horas após depoimento prestado à PF. Os dois investigados pertencem à Sociedade Islâmica de Varginha. O líder da entidade, sheik Omar Rodio, nega qualquer relação com o terrorismo e disse acreditar que a ação do governo brasileiro, por intermédio da PF, só vai aumentar o acirramento dos ânimos e o preconceito contra muçulmanos no país.
“Os muçulmanos passaram a ser expostos no Brasil como se fossem terroristas. Isso fez criar o medo entre as pessoas”, afirmou Omar Rodio, que é natural de Juiz de Fora, é formado em história e morou sete anos no Sudão, na África. “A ideia colocada é que o governo do Brasil considera como se nós muçulmanos fôssemos ligados a grupos terroristas”, reclamou Rodio, que também criticou a forma como a lei antiterrorismo foi colocada em prática.
Criada há quatro anos, a Sociedade Islâmica de Varginha tem sua sede em uma mesquita no Centro da cidade, onde são ministradas palestras pelo seu líder sobre o islã. A comunidade conta com 35 integrantes, entre os quais os dois investigados, que tiveram os nomes preservados.
Omar Rodio disse que a entidade prega a paz e que não faz nenhuma alusão ao terror. “Não temos nenhuma relação com o Estado Islâmico ou qualquer outro grupo terrorista. A paz é o sentido fundamental do islã”, destacou o líder da comunidade de Varginha, lembrando que as suas pregações seguem a “Suna” (“caminho trilhado”, em árabe) do profeta Maomé (Muhammad, no Islamismo), baseadas no Alcorão, o livro sagrado do islã.
Ele afirmou que não existiam provas ou indícios contra os investigados em Varginha e que a operação da PF causou constrangimento aos frequentadores da mesquita local. “As pessoas da comunidade ficaram chateadas, pois não há nada de errado e sofreram buscas e foram tratadas como bandidas. Fomos procurados não porque somos terroristas, mas apenas porque somos muçulmanos”, afirmou Omar Rodio. “A sensação foi que a Polícia Federal e o governo saíram atirando para todos os lados, sem medo de acertar ninguém”, protestou.
O líder da sociedade islâmica salientou que a comunidade muçulmana no Brasil é alvo de preconceito e que já houve ataques contra mesquitas no país – em Brasília e SP. Relatou que, principalmente, após os episódios violentos na Síria e as ações e os ataques do grupo terrorista do Estado Islâmico em países da Europa (Bélgica, Turquia e França), os muçulmanos passaram a ser vítimas de preconceito religioso e de atitudes hostis por parte de membros de outras religiões que desconhecem as pregações do profeta Maomé e do Alcorão. Em Varginha, uma integrante da comunidade islâmica chegou ser xingada na rua de “mulher-bomba”. “Pelo fato de sermos muçulmanos, passamos a ser vistos como pessoas perigosas. Isso um preconceito. É como dizer que todo mundo que mora na favela seja bandido”, afirmou.
Omar Rodio também criticou a Lei Antiterrorismo, que, segundo ele, afronta o estado de liberdade de direito. “Esta lei contraria, por exemplo, a liberdade ao culto religioso. Ela também contraria a liberdade de expressão. Ela prevê que uma pessoa pode ser presa por pensar em cometer um crime. Como a pessoa pode ser considerada criminosa somente por pensar?”, questiona.