Rio, 23 - A delegada titular da Delegacia Especial de Atendimento à Mulher em São Gonçalo, Débora Rodrigues, vai pedir a inclusão da mulher que foi vítima de estupro coletivo na última segunda-feira (17) no bairro da Lagoinha no Programa de Proteção à Testemunha. Segundo a delegada, ela vem sendo ameaçada de morte pelos criminosos que ainda não foram presos.
"Tendo em vista que ela denunciou traficantes do local, entendo que o caso é muito grave. Depois que fez o registro (da ocorrência) ela passou a ser ameaçada", disse a delegada. O pedido será encaminhado nesta segunda-feira (24) à subsecretaria de Defesa e Promoção dos Direitos Humanos, mas a vítima já está afastada de São Gonçalo para que sua segurança seja preservada. Aos 34 anos, a mulher tem três filhas e este foi o quarto ataque que sofreu do mesmo grupo. "Infelizmente é um crime muito comum na região", disse a delegada. O município de São Gonçalo fica na região metropolitana do Rio.
No dia do crime, a polícia chegou a prender dois menores, mas outros oito agressores fugiram. As ameaças provavelmente partiram desses homens.
Neste domingo, policiais da DEAM-São Gonçalo percorreram os locais do crime, passando pelo bar onde tudo começou e seguiram até a rua deserta e escura onde ela foi estuprada pelo grupo. A ideia era buscar vestígios do crime. A Polícia Civil também começou a ouvir testemunhas do episódio, na tentativa de identificar os demais criminosos.
A Polícia Civil e a Polícia Militar também já abriram procedimentos para investigar a conduta de seus agentes ao atenderem o caso. Conduzida à delegacia ao lado de seus agressores, a mulher voltou a ser molestada no carro da PM. Na delegacia, o agente escreveu termos vulgares ao registrar a ocorrência, com expressões como "boquete triplo", "fizeram anal e vaginal", "não usaram camisinha, no pelo", e ainda "que a declarante só gritou quando empurraram um galho de árvore na sua bunda".
O caso foi revelado pelo jornal Extra. A vendedora, de 34 anos, foi atacada na madrugada de segunda-feira (17). Ela estava em um bar com um amigo, no bairro Lagoinha, em São Gonçalo, quando quatro jovens ligados ao tráfico da região a arrastaram para o banheiro do bar.
Os policiais encontraram dois adolescentes no caminho, que foram reconhecidos pela mulher e detidos. Os dois seguiram na mesma viatura que a vítima e no caminho para a 74ª Delegacia de Polícia eles voltaram a importunar a mulher. O crime só foi encaminhado à delegacia especializada depois que o caso foi revelado pela imprensa. Ao Extra, a vendedora contou que há quatro anos um ex-namorado divulgou vídeo íntimo gravado sem consentimento na favela onde ela mora. Depois disso, os traficantes a estupraram quatro vezes, em quatro anos. Ela não os denunciou por temer pela segurança dela e das filhas.
Na tarde de sábado (22) a vítima prestou novo depoimento e afirmou que participaram do ataque cerca de dez homens.