Rio de Janeiro, 31 - Inaugurado em 1945 e assinado por Lúcio Costa, Oscar Niemeyer e Affonso Reidy, entre outros nomes de vanguarda da arquitetura modernista brasileira, o Palácio Gustavo Capanema, no centro do Rio, vive dias difíceis. O prédio, sede da representação do Ministério da Cultura para o Estado e para o Espírito Santo, está sendo reformado desde 2012 e há dez dias o choque de uma estrutura de ferro com uma janela estilhaçou o vidraça, cobrindo de cacos dois servidores. Desde então, o expediente foi cortado à metade, para a segurança dos funcionários. Eles esperam a apresentação de um plano de transferência emergencial para espaços alugados.
A janela, de cerca de 4 metros quadrados, fica no 12º andar. O choque foi ouvido cinco andares abaixo. "Veio uma chuva de vidro em cima de mim. Fiquei em choque. Foi muita sorte não ter sofrido nada sério", disse uma servidora atingida, que pediu para não ter o nome publicado.
O MinC creditou o acidente a "fortes ventos". Informou que a reforma, coordenada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e orçada em R$ 60 milhões, recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)-Cidades Históricas, "segue todas as normas e procedimentos de segurança previstos em lei". Segundo o ministério, o processo de transferência está nos ajustes finais.
Os funcionários relatam que em junho de 2015 uma janela se partiu no 11º andar, também em decorrência da obra. Eles criticam o fato de a empresa responsável ser a Concrejato, do grupo empresarial responsável pela construção da ciclovia Tim Maia (zona sul), que teve um trecho derrubado pelo mar em abril, matando dois homens.
Edificação
Ícone da arquitetura modernista no Brasil e uma de suas edificações mais antigas, a primeira com fachada inteiramente de vidro, o Capanema foi construído no governo Getúlio Vargas para sediar o Ministério da Educação e Saúde. Abriga escritórios do MinC e instituições vinculadas, como o Iphan, a Fundação Nacional de Arte (Funarte) e o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram).
Com 16 andares, o prédio chama a atenção no centro do Rio pelo arrojo. É apoiado em pilotis de 10 metros de altura, tem painéis de azulejos de Cândido Portinari e jardins de Roberto Burle Marx.
Desde a construção, entre 1937 e 1945, não foi realizada uma reforma de vulto. A atual, que conviveu com a ocupação do prédio por ativistas do setor cultural entre maio e julho, em protesto contra o governo Michel Temer, deverá durar ainda dois anos.
A fase atual da reforma se concentra na restauração da fachada de vidro e a recuperação dos sistema de brises-soleils (para-sóis externos das janelas), que não estavam funcionando, como forma de melhorar a ventilação. A última parte das obras contemplará o restauro do acervo de artes plásticas, com obras de Portinari e Bruno Giorgi, entre outros..