São Paulo, 07 - A Justiça de São Paulo abriu um processo por crime de prevaricação contra o conselheiro tutelar Leonardo Beirão Souza na mesma ação penal na qual a mãe e o padrasto de uma menina de 9 anos são acusados de torturar a criança por mais de quatro anos.
De acordo com a denúncia oferecida pelo Ministério Público, Souza não atuou no caso da menina como convém a um conselheiro tutelar. Na visão da Promotoria, ele poderia ter tirado a criança da rotina de espancamentos e tortura, mas "deixou de praticar, indevidamente, atos de oficio, para satisfazer interesse pessoal".
Em agosto, depois de ser surrada pela mãe, Vanessa de Jesus Nascimento, por "não ter limpado a casa direito" e ter recebido a ameaça de que apanharia mais quando o padrasto, Adriano dos Santos, voltasse do trabalho, a menina conseguiu fugir e foi socorrida por duas mulheres, no Butantã, na zona oeste da capital. Na mochila, ela levava roupas, comida e o caderno da escola.
As investigações da Polícia Civil apuraram que a menina foi encontrada na rua, por volta das 17h30, e acabou sendo levada para um hospital da região. Na ocasião, o serviço social acionou o Conselho Tutelar do Butantã. Souza chegou por volta das 20 horas e foi orientado a registrar o caso na delegacia no dia seguinte, pela manhã. O objetivo era, com o registro na polícia, direcionar providências em relação à segurança da menina, como tirá-la do convívio com a mãe e realizar exames periciais.
Souza não foi registrar o caso na delegacia, conforme a orientação recebida, nem foi localizado pela manhã. A polícia só o encontrou à tarde. Nesse intervalo, o padrasto da garota fez um boletim de ocorrência comunicando o desaparecimento da menina.
'Situação de risco'
Segundo o Ministério Público, a conduta do conselheiro "colocou a criança ainda mais em situação de risco, na medida em nada havendo contra a genitora e o padrasto havia o risco do hospital e a assistência social terem de entregar novamente a criança aos seus algozes, caso ali comparecessem".
O Conselho Tutelar da Lapa foi, então, acionado e tomou as medidas que julgou necessárias para garantir a segurança da menina.
O depoimento da menina chocou a todos. Ela descreveu, por exemplo, que teve as unhas arrancadas com alicate. Contou também que uma vez a mãe cortou sua língua, a costurou com uma linha e a obrigou a limpar o sangue que havia espirrado. Segundo ela, quando a louça não ficava limpa, tinha de ficar de pé no banheiro enquanto a família dormia.
Segundo o Ministério Público, o corpo da criança está todo marcado por agressões. Vanessa e Santos são acusados de usar fios e mangueira para bater na menina, que às vezes, era obrigada a dormir no chão e no quintal da casa, como forma de castigo.
Denúncia de docentes
A polícia descobriu que professores da Escola Estadual Adolfino Arruda Castanho, onde a menina estudava, acionaram o Conselho Tutelar do Butantã por duas vezes em 2016, relatando que ela chegava toda machucada e com sinais claros de espancamento.
Defesa
O conselheiro tutelar Leonardo Beirão Souza disse que as acusações do Ministério Público não procedem e que provará que não foi omisso. "Quem atendia a menina era outro conselheiro. Quando ela fugiu de casa, eu entrei no caso porque estava de plantão."
Sobre a demora em comparecer à delegacia, Souza afirmou que isso ocorreu porque "não havia carro disponível". "Não há estrutura adequada de trabalho nos conselhos tutelares. E quem sofre com isso são as crianças."
A reportagem não localizou os advogados de Vanessa de Jesus Nascimento e Adriano dos Santos. Em depoimento à polícia, eles admitiram que agrediam a menina e um acusou o outro.
A menina está em um abrigo por determinação da Justiça e deve ser entregue aos avós.
As informações são do jornal
O Estado de S.