São Paulo – O Antonov AN-225 Mriya, o maior avião do mundo, único do seu modelo, dedicado ao transporte de cargas de grandes proporções, pousa no aeroporto de Viracopos, em Campinas, na manhã desta segunda-feira e à noite segue para o terminal de Guarulhos, onde será carregado com um transformador de 155 toneladas que vai tirar uma cidade chilena inteira da escuridão. Segundo o aeroporto, será a maior carga já transportada na história da aviação brasileira e a segunda no mundo. Essa será a segunda vez que o AN-225 vem para o Brasil – o modelo visitou o país pela primeira vez em 2010, quando trouxe equipamentos de grande porte comprados pela Petrobras.
O pouso do Antonov não afeta a operação regular do aeroporto, mas requer cuidados especiais. “Tivemos de redesenhar o pátio, já que a operação de carregamento deve ocupar o espaço de sete aeronaves”, explica o comandante Miguel Dau, diretor de Operações da GRU Airport, concessionária do aeroporto, que em 2015 passou por obras de alargamento das pistas para receber aviões de grande porte, como o AN-225 e o Airbus A380, o maior avião de passageiros do mundo. Sem a reforma, a única alternativa seria transportar o transformador pelo mar – as estradas dos Andes não comportariam um caminhão grande o suficiente. A operação será transmitida pelo Facebook da concessionária.
O AN-225 é impulsionado por seis motores a jato, tem 84 metros de comprimento e mais 88 metros de envergadura de asas. Pode transportar cargas de até 300 toneladas – pode decolar com peso máximo de 600 toneladas, incluindo a carga, volume de combustível e o próprio peso do avião.
Assim como aconteceu quando a Emirates voou de Dubai para Guarulhos com o A380, a chegada do Antonov deve atrair curiosos apaixonados por aviação. Sem acesso às áreas restritas, observadores como Douglas Barbosa, de 25 anos, se encontram às margens do aeroporto para assistir ao pouso.
Além do Antonov, outros aviões icônicos devem passar por Guarulhos hoje, como o Boeing 757 da banda Guns N’ Roses, o trijato MD-11F, cuja versão de passageiros era usada pela Vasp em voos intercontinentais, e o também soviético Ilyushin IL-96, num voo fretado da Cubana de Aviación. “Eventos assim consolidam a imagem do aeroporto como uma opção cargueira e provam uma capacidade de flexibilidade operacional para receber qualquer tipo de operação”, explicou o comandante Dau.
MEMÓRIA
Herança soviética
Durante a Guerra Fria, enquanto os americanos transportavam o Space Challenger num Boeing 747 de 1966 e adaptado pela Nasa, os soviéticos desenvolveram seu próprio gigante para carregar o ônibus espacial Buran pelos ares (foto). Foi aí que, em 1988, surgiu o primeiro e até hoje único exemplar do AN-225 Mriya. Após a queda da União Soviética e o cancelamento do seu programa espacial, o AN-225 sucumbiu por anos em um cemitério de aviões na Ucrânia.