Morador de uma casa simples no bairro Arapoangas, em Planaltina, no Distrito Federal, João (nome fictício), 13 anos, parecia ainda não entender a situação que havia vivido na tarde da última segunda-feira. O garoto estuda no Centro de Ensino Fundamental Arapongas (Cefa) e teve a imagem viralizada na internet em um vídeo no qual aparece chorando, de cabeça baixa. A cena gravada seria resultado de humilhação causada pelo vice-diretor da instituição, Jordenes Ferreira da Silva, que recolheu as sandálias do aluno no intervalo e o obrigou a voltar para a sala descalço, enquanto era alvo de chacotas de colegas.
O caso chegou à 31ª Delegacia de Polícia (Planaltina), depois de informado ao Conselho Tutelar. O vice-diretor prestou depoimento e foi liberado. Na manhã de ontem, a família de João recebeu o Correio em casa. “Fiquei descalço no intervalo, porque estava brincando de futebol com uma bolinha de papel. Estava com a sandália na mão. Aí, coloquei no chão para calçá-la e, nesse momento, o Jordenes pisou no meu pé e levou a sandália para a direção.
Jordenes trabalhou normalmente ontem. João ficou em casa. A mãe, Lúcia (nome fictício), 32, ainda se recupera do susto que levou ao receber a visita do Conselho Tutelar. “Eles chegaram aqui falando que iríamos para a delegacia devido uma situação que o meu filho havia passado. Fiquei assustada. O que mais me revolta é que a direção nem entrou em contato para me avisar”, reclama. Segundo a mãe, o colégio nunca proibiu o uso de sandálias. “Eu quero conversar com o vice-diretor, entender o que aconteceu. Nunca tive problemas com a escola, ao contrário.” O Cefa oferece ensino em tempo integral, com aulas das 7h às 17h30. Jordenes trabalha na instituição há 18 anos e será o diretor da gestão que começa em janeiro de 2017.
A chefe da Corregedoria da Secretaria de Educação, Mônica Gondim, informou que o vice-diretor Jordenes não tem nenhuma conduta inadequada registrada no órgão. “Ele possui um histórico funcional muito bom, mas, no dia do acontecido, instauramos um procedimento de investigação preliminar. Se conseguirmos levantar todos os dados, na próxima semana poderemos instaurar um Procedimento Administrativo Disciplinar”, afirma. Se ficar provado que o professor cometeu excessos, será aplicada uma punição, que varia de suspensão de até 90 dias à perda do cargo.
A diretora da escola, Eunice Correia, contou que estava no almoço durante o incidente. “Não tinha conhecimento do episódio. No meio da tarde, os conselheiros tutelares chegaram à escola e retiraram o João e mais dois alunos da sala, dizendo que os levariam à delegacia”, detalha. Eunice tentou impedir, pois os conselheiros não explicaram o problema. “Eles tiraram o celular do bolso e começaram a gravar tudo. Só quando o Jordenes chegou eles informaram o ocorrido, deram voz de prisão a ele e o acompanharam à delegacia”, diz.
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