Os agentes alertam que as más condições nas cadeias, que sofrem com a deterioração da qualidade da comida, em decorrência da crise financeira do governo estadual, e o forte calor do verão são fatores que acirram os ânimos dos detentos e causam preocupação.
O embate entre integrantes das facções na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, em Boa Vista (RR), e na penitenciária Ênio dos Santos Pinheiro, em Porto Velho (RO), entre os dias 16 e 17 de outubro de 2016, além de outros indicativos da rixa entre os criminosos, acendeu o alerta. Nos dois conflitos, 18 presos foram mortos. O de Porto Velho começou horas depois do registrado em Boa Vista. As autoridades concluíram que o acordo que havia entre as duas facções de coexistência pacífica foi suspenso, daí os confrontos.
Oficialmente, a Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) do Rio informa que a rotina nas 50 unidades prisionais fluminenses está normal. "Não foram registradas rebeliões em unidades prisionais do Rio. Para garantir a segurança, todas contam com procedimentos de revista com o auxílio de equipamentos de segurança", divulgou a Seap.
Segundo os números passados pelo órgão, há 85% de excedente de presos: a população carcerária atual é de 50.555 internos, sendo que as vagas somam 27.242. Há 23.313 presos aguardando julgamento.
"O racha entre o PCC e o CV causa muita instabilidade. Mas o Estado do Rio tem excelência na percepção e mediação de conflitos e tem por hábito estar atento ao que acontece no País", disse o presidente do Sindicato dos Servidores do Sistema Penitenciário, Gutemberg de Oliveira. "Nossa maior preocupação é a lotação e elementos potencializadores, como a comida, o calor e a falta de celeridade da Justiça em relação aos benefícios a que os presos têm direito e à marcação de audiências".
A dívida do Rio com as empresas fornecedoras de alimentos aos presos somava no fim de 2016 R$ 200 milhões. Segundo a Seap, o governo está se empenhando para honrar os pagamentos dos atrasados, e o cardápio segue variado, "arroz ou macarrão, feijão, farinha, carne branca ou vermelha (carne, peixe, frango), legumes, salada, sobremesa e refresco", além do café da manhã e o lanche.
Outro problema apontado pelos servidores é o déficit de pessoal. "Existem 6 mil servidores, mas só 1.500 na atividade fim, divididos em quatro turnos de plantão. Deveriam ser, no mínimo, 4 mil. Tem muita gente no ar condicionado, em desvio de função. O sistema está em estado de atenção há um bom tempo", afirmou o agente Paulo Ferreira, ex-presidente do sindicato.
De acordo com a categoria, o alerta se justifica ainda que não tenham sido detectadas movimentações atípicas, como o pedido de transferência para celas separadas, o chamado "seguro", o que acontece quando os presos são ameaçados e é identificado risco iminente de vida..