Brasília, 06 - "É uma cena que choca pela brutalidade, pela violência, pela selvageria". Essa é a forma como o deputado federal Hiran Gonçalves (PP-RR) conseguiu descrever o cenário deixado na madrugada desta sexta-feira, 6, na Penitenciária Agrícola de Boa Vista (PAMC), onde cerca de 30 detentos foram mortos.
Médico-legista aposentado, o deputado esteve no local do novo massacre no início da tarde. "Sai há pouco da penitenciária. Aparentemente foi uma guerra entre a mesma facção. A maioria dos detentos que estão ali são do PCC e houve uma guerra entre os presos mais antigos com os mais novos", afirmou à reportagem o parlamentar.
Segundo ele, um dos problemas enfrentados no momento é com a "montagem" dos corpos daqueles que após serem mortos, tiveram parte do corpo dilacerada. "A nossa estrutura de remoção de cadáveres não está dimensionada para eventos dessa natureza. Até para a gente fazer a remoção dessa quantidade de cadáveres é um problema. Para se ter uma ideia, eu sai de lá há cerca de uma hora e ainda havia cerca de 20 cadáveres para serem removidos. Um dos problemas encontrados é o fato de integrantes da equipe de necropsia terem de montar os cadáveres. A maioria foi decapitada e muitos tiveram seus corações e vísceras arrancados e até membros inferiores dilacerados", relatou o parlamentar.
De acordo com o deputado com a presença da equipe de elite da Polícia Militar o ambiente no local, no momento, é de certa tranquilidade. "Agora está mais calmo. O Bope está lá dentro com cerca de 50 homens, os presos estão nas alas. Tem uma ala que se chama favela que era uma quadra de esportes usada por presos de menor potencial ofensivo. Esses presos estão todos lá, isolados para a realização de uma contagem", disse.
Integrante da Comissão Parlamentar de Inquérito do Sistema Carcerário, o deputado discorda das considerações do ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, que não vê no massacre desta madrugada a criação de uma possível onda de matança dentro dos presídios. "Apesar de o ministro achar que não tem conexão com o caso de Amazonas, eu acho que o clima de violência contamina os demais presídios".
Em entrevista concedida na manhã desta sexta no Palácio do Planalto, o ministro afirmou que o que está acontecendo no País é o que se chama, no sistema prisional, de "morte oportunista", quando, a partir de uma rebelião, os presos começam a querer agir contra os seus desafetos.