População do DF se prepara para ficar um dia da semana sem água na torneira

Companhia de Abastecimento do Distrito Federal (Caesb) anuncia início do racionamento para 1,8 milhão de pessoas

Flávia Maia
"Tenho o salão há 10 anos e nunca tinha passado por essa situação. Mas não pretendo diminuir o horário de atendimento", diz Macilene Reis, dona de um salão em Ceilândia - Foto: Helio Montferre/Esp. CB/D.A Press

O menor volume de água já registrado na Barragem do Descoberto levou a Companhia de Abastecimento do Distrito Federal (Caesb) a tomar a mais drástica medida para forçar a diminuição do consumo do líquido: o plano de racionamento, o primeiro da história do DF. No total, 65% da população da capital do país —  cerca de 1,8 milhão de habitantes — ficarão sem água por 24 horas a cada seis dias. O rodízio começa na próxima segunda-feira, às 8h, nas cidades de Ceilândia, Recanto das Emas e Riacho Fundo II. Ao todo, serão 15 regiões administrativas afetadas pelo racionamento — todas elas abastecidas pelo rio Descoberto. As demais, como o Plano Piloto, os Lagos Norte e Sul, Itapoã e Varjão não participarão do rodízio porque são atendidas pelo sistema Santa Maria/Torto.

A expectativa da Caesb é uma economia a mais de 10% no consumo de água por conta do racionamento e, somando todas as medidas em vigor, a empresa espera 25% de redução. Não há prazo definido para o fim das restrições. O rodízio vai funcionar em um ciclo de seis dias, no qual o morador fica 24 horas sem água. Em seguida, passa dois dias com o sistema instável e mais três dias com o serviço normalizado.
“Quando a gente desliga um sistema, a volta da carga (água) é gradual, o que pode demorar mais em algumas regiões, como as mais altas, que demandam maior pressão. Por isso, teremos o prazo de 48 horas para a estabilização”, explica Maurício Luduvice, presidente da Caesb.

Mesmo com o racionamento programado, as outras práticas de contenção de consumo, como a tarifa extra para o gasto acima de 10 mil litros por mês e a redução de pressão, continuam valendo. Dessa forma, a população, que já vinha convivendo com menos água na torneira por conta da redução da pressão diária nos canos de distribuição, terá que se adaptar ainda a um dia da semana sem o serviço. Nos dias de racionamento, os prédios públicos, como escolas, hospitais e delegacias, serão abastecidos por caminhões-pipa.

A recomendação da Caesb é a de que os moradores, uma vez avisados do calendário de desligamentos, passem a armazenar água em reservatórios, como caixas d’água. Questionado sobre o fato de a população armazenar mais água do que o necessário e incrementar o consumo, Luduvice afirmou que conta com o bom senso. “O nosso desafio é acabar com a cultura do desperdício. O DF não tem tanta água. Por isso, precisa consumir na medida certa”.

Embora as regiões abastecidas pelo Santa Maria/Torto não entrem no rodízio, elas passarão a conviver com a diminuição de pressão nas redes de distribuição de água, o que significa que o líquido chegará nas torneiras com menor intensidade. A previsão é de que a medida comece a vigorar a partir de 30 de janeiro. Entretanto, a Caesb informou que ainda faltam ajustes técnicos e autorização da Agência Reguladora de Águas do DF (Adasa). Por isso, não há um detalhamento sobre como vai funcionar a redução de pressão.

Na tarde de ontem, segundo as medições da Adasa, o Descoberto chegou ao nível de 18,94%, o mais baixo já registrado. A forte chuva que atingiu regiões isoladas da capital ainda não foi suficiente para reverter o quadro de escassez causado pela falta de precipitações e pelo calor. A previsão é de que as chuvas comecem a ficar mais frequentes.
A meteorologista Cláudia Rickes afirma que, nos próximos dias, devem ocorrer pancadas com trovoadas isoladas com possibilidade de descargas elétricas. Para hoje, a máxima pode atingir 28ºC e a mínima, 18ºC. A umidade máxima prevista é de 95%.

Autorização

Desde novembro de 2016, quando o nível do Descoberto chegou a 20%, a Adasa autorizou a Caesb a implantar o plano de racionamento. Entretanto, a empresa adiou a execução, alegando “questões técnicas”, quando boa parte dos especialistas recomendava medidas mais austeras para conter o consumo. Na opinião de Luduvice, todas as decisões da empresa foram tomadas com responsabilidade. “20% é um marco orientativo. Não significava que a gente tinha que entrar em racionamento naquele momento. As outras medidas de contenção estavam conseguindo frear o consumo e esperávamos mais chuva do que as registradas neste início de ano.”

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