O grafiteiro Mauro Neri, de 35 anos, foi detido por policiais militares na tarde de ontem, depois de apagar a tinta passada pela Prefeitura em um grafite que ele mesmo havia feito, com aval da gestão do ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD), e pintar uma pilastra no Complexo Viário João Jorge Saad (Cebolinha), na zona sul de São Paulo. No mesmo dia, outros três pichadores foram detidos e liberados mais tarde após serem flagrados por guardas-civis metropolitanos pichando muros nas Avenidas 23 de Maio e Bernardino de Campos, na zona sul.
Neri disse que ficou revoltado ao saber que seus grafites seriam removidos, uma vez que estariam em bom estado, segundo ele. "Eu estava removendo o cinza e escrevendo novas frases onde eu já tinha autorização", disse. O material foi apreendido e foi solicitada perícia técnica. O caso está registrado na 2.ª Delegacia do Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania.
Ele estava acompanhado por uma produtora espanhola que veio a São Paulo gravar parte de um documentário sobre arte jovem. O foco na cidade seria "a capital mundial do grafite", mas o grupo se surpreendeu ao saber que as obras estavam sendo removidas.
O grafite apagado foi feito em 2015 e era parte do projeto Cartografitti, da Secretaria Municipal de Cultura.
Apesar da prisão, o artista disse que o momento é "positivo" para grafiteiros e pichadores. "Deve ter triplicado o número de pichadores e eles estão agradecendo. Para o vândalo, ser criminalizado é positivo. Vai intimidar quem tinha medo, mas quem tem audácia está muito mais estimulado a continuar. É positivo que se explicite essa discussão, mas a questão é que a polêmica pode estar ofuscando assuntos mais importantes."
Para evitar que pichadores detidos voltem a agir, a Prefeitura também pedirá à Justiça a concessão de liminares impondo multas para quem for flagrado danificando novamente os bens públicos, como revelou o
Estado
. As ações civis públicas, que devem começar a ser protocoladas na próxima semana, terão como base a Lei Federal 7.347/85. Os processos criminais relativos aos crimes praticados pelos pichadores ainda correrão paralelamente
Museu
A administração municipal já começou a sondar os grafiteiros que possam ter interesse em participar do projeto Museu Arte de Rua, que vai pagar artistas de rua selecionados por uma comissão para pintar pontos específicos. Artistas ouvidos pelo
Estado
se dividiram em relação à proposta.
O grafiteiro Paulo Ito, que ficou famoso internacionalmente na Copa do Mundo, considerou que a ação não vai remediar os erros. "Eu não vou participar em hipótese nenhuma, a não ser que tenha liberdade até para criticar o próprio Doria." Já o casal de grafiteiros Karen Kueia e Diogo Kueio aprovou a proposta. "O ruim é permanecer cinza", disseram.
Os Gêmeos
Ontem, outro expoente do grafite na cidade se posicionou na questão. Os artistas plásticos Gustavo e Otávio Pandolfo, conhecidos como Os Gêmeos e dois dos mais respeitados artistas paulistanos no exterior, criticaram nas redes sociais o que chamaram de "desrespeito à arte".
As informações são do jornal
O Estado de S. Paulo..