Vitória – A explosão de violência que toma conta de Vitória e cidades da região metropolitana após o início da greve dos policiais militares provocou 58 mortes desde a madrugada de sábado, segundo números do Sindicato dos Policiais Civiis do Espírito Santo (Sindipol). Somente no fim de semana foram 24 homicídios. Outros 34 foram registrados nesta segunda-feira.
“São homicídios de todos os tipos, entre criminosos, contra a vida da população e assaltos que resultam em homicídios”, afirmou Jorge Emílio, presidente do Sindipol. Diante do clima de insegurança, a Vale suspendeu temporariamente a circulação do trem de passageiros entre Minas e Espírito Santo. A pedido do governo do estado homens da Força Nacional começaram a desembarcar ontem em Vitória.
Os policiais militares estão parados por pagamento em dia e reajuste salarial. A Justiça decretou o movimento ilegal e já determinou que eles saiam das portas dos quartéis. As manifestações ocorrem em toda a Região Metropolitana de Vitória, Guarapari, Linhares, Aracruz, Colatina e Piúma.
Os familiares protestam no lugar dos PMs, porque eles são proibidos pelo Código Penal Militar de fazer greve ou paralisação, sob pena de prisão.
“Há uma situação de gravidade lá (em Vitória) porque as polícias estão, ao que eu tenho tido informação, impedidas de se deslocar para exercer suas funções porque familiares, mulheres dos policiais, estão fazendo bloqueios. Isso tem levado a uma situação que, praticamente, não se tem policial militar na rua”, afirmou o ministro da Defesa, Raul Jungmann.
“A rede de ensino se encontra desmobilizada, o sistema de transporte com problemas. Ainda hoje (ontem) estaremos nas ruas da Grande Vitória.”
O governador em exercício, César Colnago, informou que o ministro da Justiça e Segurança Pública, Alexandre de Moraes, autorizou o envio imediato de 200 homens da Força Nacional para o policiamento, sendo que 80 sairão do Rio de Janeiro e 120 de Brasília.
No fim de semana, um ônibus foi incendiado, uma guarita da PM foi queimada e há relatos de arrastões e assaltos a lojas. A Prefeitura de Vitória suspendeu o início do ano letivo na rede municipal. As unidades de saúde da capital não funcionam, com exceção dos pronto atendimentos da Praia do Suá e São Pedro. Órgãos da Justiça também fecharam as portas.
Jungmann estima que até 2 mil militares reforcem o policiamento ostensivo em Vitória e na região metropolitana, a exemplo do que ocorreu no Rio Grande do Norte. Esse efetivo deverá ser deslocado de outros comandos do Exército, da Marinha e da Aeronáutica do próprio Espírito Santo, além de tropas de estados vizinhos.
O governo do estado anunciou a troca do comando da PM. O coronel Laércio Oliveira, que tinha sido nomeado em 16 de janeiro, foi substituído pelo coronel Nilton. O secretário de Segurança Pública, André Garcia, divulgou uma série de decisões tomadas para conter as manifestações e a violência na Grande Vitória.
Entre as medidas estão, além do pedido de envio da Força Nacional, a suspensão de negociações com os policiais enquanto não voltarem ao trabalho de patrulhamento nas ruas e atendimento das ocorrências.
Jungmann esteve em Natal no fim da manhã dessa segunda-feira, para avaliar os resultados da Operação Potiguar II, desempenhada por 1.887 militares das Forças Armadas enviados após as rebeliões que culminaram na morte de 26 presos na Penitenciária Estadual de Alcaçuz, na Região Metropolitana de Natal. Da capital potiguar o ministro e comitiva, formada por militares, seguiu para Vitória.
REEMBOLSO
Ao anunciar a suspensão das viagens do trem de passageiros, a Vale informou que a medida é necessária para garantir a segurança das pessoas e dos empregados que atuam no interior do trem e nas estações ferroviárias localizadas no Espírito Santo.A empresa informa ainda que o trem circulará apenas até Governador Valadares, no Leste de Minas, e de lá retornará para a capital mineira. Os passageiros que tinham viagem marcada poderão remarcar o bilhete, ou pedir o reembolso do valor. Para isso, devem se dirigir no prazo de até 30 dias a qualquer uma das estações localizadas ao longo da Estrada de Ferro Vitória a Minas.
GARANTIA DA ORDEM
Nos últimos seis meses, o uso das Forças Armadas foi empregado, além do Rio Grande do Norte, em Pernambuco, Maranhão e Amazonas. Perguntado se esse recorrente emprego das tropas federais na operação de garantia da lei e da ordem nos estados representava a falência da segurança pública, o ministro negou.
“De forma alguma. O que existe hoje é que o crime se nacionalizou. Os estados não lidam mais com uma criminalidade local. Hoje, o crime está se nacionalizando, sobretudo no Sudeste”, declarou. “Nenhum governador pode ter o controle ou capacidade de resolver isolado quando há uma crise.”