Rio de Janeiro – O estado viveu um sábado tenso com a falta de acordo entre mulheres de policiais militares e o comando geral da Polícia Militar. Depois de cerca de três horas de reunião, não houve consenso para a suspensão do movimento grevista. Elas exigem pagamento dos salários, férias atrasadas, décimo terceiro, gratificações e melhores condições de trabalho, entre outras reivindicações. Enquanto isso, alguns quartéis não tiveram expediente ontem.
O governo do estado teme que o endurecimento contra grevistas no Espírito Santo, com possível decretação de prisão e até pagamento de multas, leve a dois caminhos distintos: a intimidação da PM no Rio e em outros estados ou a criação de um sentimento de união e reforço a greves generalizadas.
Uma das grandes preocupações do governo é com a percepção de que uma paralisação de policiais levaria a cidade ao caos e causaria repercussão internacional. Isso porque o Carnaval, que é a maior festa do país, está chegando e turistas do mundo inteiro deixariam de vir.
Por causa dos bloqueios feitos por mulheres de PMs em frente a 29 batalhões, a corporação empregou helicópteros do Grupamento Aeromóvel (GAM) para transportar e distribuir policiais, principalmente de tropas especiais, nas ruas da capital. No 16º BPM, em Olaria, a troca de turno foi impedida por protestos, mas as ruas dos bairros da Penha e de Ramos foram sendo policiadas com trocas de turno auxiliadas pelas aeronaves. Ontem, foram pelo menos quatro viagens com helicópteros do GAM, somente no Batalhão de Olaria, de onde saíram policiais militares também para o patrulhamento nas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) da Penha e da Vila Cruzeiro.
PMs sem armas em UPP
A manifestação de mulheres de policiais em frente ao 6º Batalhão da Polícia Militar, na Tijuca, na Zona norte do Rio, refletiu na segurança dos militares. Na Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Morro do Salgueiro, no bairro, 15 policiais trabalharam desarmados e sem colete à prova de balas na manhã de ontem. Eles contaram que receberam ordem do comando do batalhão para seguir diretamente para a base da UPP, um contêiner instalado na entrada do morro, no início do turno, às 6h.
Normalmente, antes de seguir para as UPPs, os PMs se apresentam ao batalhão para buscar o material de trabalho. Mas ontem não fizeram dessa forma por orientação do comando, que organizou a rendição dos turnos nas ruas para romper o movimento das mulheres. Elas protestam pela regularização do pagamento de salários e benefícios, atrasados por causa da crise financeira do estado. “Tem que contar com a sorte de vagabundo não atirar na gente”, afirmou um dos policiais, que não quis se identificar à reportagem.
Por volta das 8h30, parte do grupo de 15 PMs mantidos na base da UPP estava parada do lado de fora da unidade, encostada em seus carros, na calçada, mexendo em seus telefones celulares. Nesse grupo, apenas um estava fardado, com colete e armado, porque trouxe seu equipamento de casa. “Os bandidos conhecem a nossa cara. Estamos aqui todos os dias. Mas fazer o quê? Tem muita coisa envolvida”, disse um dos PMs, ao comentar a vulnerabilidade do grupo.
Ontem foi o segundo dia de manifestação das mulheres de policiais nas portas dos batalhões. Houve movimentação também em pelo menos outros três batalhões: 16º (Olaria, na Zona Norte), 19º (Copacabana, Zona Sul) e 23º (Leblon, Zona Sul). Na Tijuca, elas prometeram levar os filhos e parentes hoje, para participar do protesto.
Manifestação por
salários atrasados
Mulheres de militares fizeram manifestação em pelo menos 29 unidades da Polícia Militar ontem, dando continuidade ao protesto iniciado na sexta-feira. O ato é pelo pagamento do 13º salário, do Regime de Adicional de Serviço Olímpico e de adicionais pelo programa de metas, todos atrasados.
“Não existe paralisação da Polícia Militar, e sim uma mobilização de familiares, iniciada pelas redes sociais”, afirma nota da PM. Na Baixada Fluminense, o bloqueio no 39º Batalhão, de Belford Roxo, durou toda o dia. “Aqui não entra e nem saem viaturas. Esvaziamos os pneus de duas delas. Vamos manter o movimento com força total. O movimento não vai acabar se o dinheiro não cair na conta”, disse Alberta Peres, mulher de um policial.
Em Jacarepaguá, o 18º Batalhão, responsável pela área, também tinha bloqueio total, segundo Ana Souza, mulher de um agente. “Ninguém entra, ninguém sai. Vamos continuar o movimento, pois os nossos maridos estão em risco e sem receber”, disse, enquanto acompanhava uma reunião com o comando da unidade, que pedia para que elas liberassem a entrada.
Na nota, a PM disse ainda que respeita o direito à manifestação pacífica e pediu que as manifestantes não impeçam o direito de ir e vir dos policiais.
O secretário estadual de Segurança, Roberto Sá disse que o governo deverá pagar o salário atrasado na próxima terça-feira e que poderá pagar o 13º salário atrasado se os projetos encaminhados pelo governo à Assembleia Legislativa forem aprovados, entre eles a venda da Companhia Estadual de Águas e Esgoto, o que permitirá a liberação de R$ 3,5 bilhões do governo federal.