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Estado de Minas

Mineiros tiveram que mudar hábitos na praia para não ficar expostos a risco

Praia do Morro, a mais famosa do município, ficou vazia em comparação a outras épocas


postado em 12/02/2017 06:00 / atualizado em 12/02/2017 09:34

Guarapari e Nova Almeida – Mineiro de Divinópolis, no Centro-Oeste de Minas, o eletricista Paulo César Azevedo, de 49 anos, chegou a Guarapari poucos dias depois de a Polícia Militar do Espírito Santo deflagrar greve por reajuste de salários e melhores condições de trabalho. Ele foi com uma turma da cidade natal e todos foram unânimes em constatar que a Praia do Morro, a mais famosa do município, ficou vazia em comparação a outras épocas em que o grupo foi ao balneário.


A situação se repetiu em praias vizinhas. Ambulantes não tiveram vendas esperadas. E donos do comércio legalizado que decidiram abrir as portas penaram para conquistar a clientela. “À noite, sobretudo, ficamos preocupados com a segurança em Guarapari. Havia pouca gente na orla após as 18 horas. O comércio fechava as portas”, constatou o mineiro, que não desistiu da viagem ao saber da greve da corporação capixaba, mas decidiu redobrar a atenção. “Ficamos mais precavidos”, disse.
Aparecida, Francisco, Paulo, Ernani e Silvânia, de Divinópolis, foram para o Espírito Santo, mas mudaram programação (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press )
Aparecida, Francisco, Paulo, Ernani e Silvânia, de Divinópolis, foram para o Espírito Santo, mas mudaram programação (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press )


Ele e a mulher, a costureira Silvânia Barbosa, deixaram de fazer passeios que haviam programados ainda em Minas. “A viagem está restrita desta vez. Todos do grupo procuram ficar juntos”, disse Silvânia. Amiga do casal, Maria Aparecida de Almeida é dona de um apartamento no balneário há mais de duas décadas. Por isso, faz questão de dizer, sempre viaja para a Praia do Morro, onde uma multidão de mineiros faz o mesmo. Na última semana, contudo, ela lamentou o baixo número de banhistas no lugar.

“Havia um terço, no máximo, da quantidade de gente que, tradicionalmente, aparece nesta época do ano”, assegurou Maria Aparecida, que foi à praia na companhia do filho, Francisco, de 22, e do marido, Ernani Helvécio, de 61. A família também mora em Divinópolis, onde a violência é assunto recorrente. Maria Aparecida pensou que chegaria à praia e fugiria da insegurança que atormenta os moradores do Centro-Oeste mineiro.

Não foi bem assim: “O passeio deste ano foi decepcionante. Há duas décadas que venho a Guarapari, todo princípio de ano, e sempre vejo as pessoas alegres. Desta vez, a praia estava vazia”, lamentou, acrescentando que nem a presença da Força Nacional no balneário incentivou a vinda de turistas em grande quantidade. Até por isso, quem vive do comércio na cidade passou aperto.

Parte dos lojistas, durante a semana, até que abriu as portas, mas muitos permaneceram com o estabelecimento trancado. O baixo público, em comparação com a semana anterior à greve dos militares, fez empreendedores que alugam cadeiras de praia colecionar angústias. Sobrou até para seu Vilmar, que cobra R$ 1 para que os banhistas possam usar um dos banheiros da orla. “Vou lhe dizer uma coisa, amigo. O movimento ao longo da última semana foi pelo menos 80% inferior ao tradicional. Moradores estão receosos em sair de casa e os turistas desapareceram”, justificou Vilmar.

Incerteza atrás de correntes

Nova Almeida – A mineira Sílvia Menezes Gama Pinheiro, de 59 anos, torce pelo fim da greve da Polícia Militar do Espírito Santo. Natural de Belo Horizonte, ela viaja todos os anos para Nova Almeida, balneário da Região Metropolitana de Vitória, onde os pais levantaram uma casa há quase cinco décadas.

Na sexta-feira, era grande sua expectativa para que vingasse o acordo feito entre entidades representantivas dos policiais e o governo para encerrar a greve. Ela achava que, se isso ocorresse, enfraqueceria possíveis movimentos semelhantes em outros estados, como em Minas, onde, em 1997, a tropa deflagrou o primeiro motim do gênero no país. A revolta no estado terminou com a morte de um cabo, durante protesto no Palácio da Liberdade, e revelou lideranças que se elegeram ao Legislativo estadual e ao federal.



Sílvia imaginava que não veria uma PM novamente em greve. Seu engano a tornou ainda mais precavida. E preocupada. Durante a semana, a família dela manteve a casa em Nova Almeida trancada. Quem chegava no portão encontrava uma corrente de ferro presa ao cadeado. Dependendo do horário, até as janelas com vista para a rua estavam fechadas.

“Fico com medo, pois não sei o que pode acontecer. Este imóvel já foi assaltado antes, quando a PM não estava em greve”, recorda a aposentada. Ela chegou ao Espírito Santo justamente na semana em que a corporação decidiu cruzar os braços. Sílvia foi se encontrar com a mãe,  Maria Stella, de 83, e que deixou a capital mineira em 11 de janeiro passado.

O aquartelamento dos militares durante oito dias deixou a idosa preocupada. Na verdade, atormentada. Tanto que nem sequer caminhou pela orla durante a última semana. As visitas às casas dos amigos foram raras. Também as idas ao supermercado, à padaria e até à esquina, de onde se vê um pedaço do Atlântico.

“Eu estava com muito mais medo. Nunca vi nada parecido. O povo estava com medo de sair na rua. Minha família construiu esta casa há 47 anos. Naquela época, o dia a dia na região era diferente. A gente andava um pouco mais tranquila. Hoje, além de o imóvel já ter sido assaltado, teve a greve da polícia”, disse dona.

A casa dela fica numa rua de chão batido, a cerca de 300 metros da praia, onde a quantidade de banhistas entre os dois últimos sábados foi pequena se comparada a semanas anteriores. Boa parte do comércio no balneário manteve as portas fechadas durante os dias em que a tropa se recusou a deixar os batalhões.


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