Brasília – Na noite do último dia 6, o policial militar aposentado Osvaldo Teixeira Conceição, de 54 anos, recém-formado na Força Nacional de Segurança Pública, sentiu-se mal enquanto arrumava as malas para embarcar no ônibus que levaria mais um grupo de agentes para ajudar na contenção da crise na segurança pública que tomou conta do Espírito Santo diante do aquartelamento de policiais militares. Às pressas, foi levado ao Hospital de Base de Brasília – já que os agentes da Força estão sem plano de saúde desde dezembro de 2015 – e morreu na manhã do dia seguinte devido às consequências de um Acidente Vascular Cerebral (AVC).
A notícia pegou todos de surpresa. De acordo com um parente, Osvaldo tinha feito uma série de exames em dezembro e estava em “perfeito estado de saúde”. Na reserva há três anos, o militar de São Paulo, pai de dois filhos, abriu um comércio, terminou a faculdade de direito e havia começado a fazer uma pós-graduação. Diante da sanção da Medida Provisória 755/2016, na qual o governo federal permite que militares da reserva integrem a polícia considerada de elite, Osvaldo viu a oportunidade de voltar a fazer o que gostava. “Ele decidiu ir para a Força Nacional porque ser policial era o que ele amava fazer. Ele estava muito feliz e empolgado”, comenta um familiar. Apesar de ser grata pelo suporte recebido em todos os momentos, a família ainda não compreende o que aconteceu e espera que a morte de Osvaldo sirva de exemplo para que os agentes tenham melhores condições de atendimento de saúde.
A preocupação não é só da família do militar.
Desde 19 de dezembro, quando a MP foi sancionada pelo presidente Michel Temer, 406 novos homens foram aprovados na Força Nacional e estão sendo enviados para operações no Rio de Janeiro e no Espírito Santo. Nesta semana, mais 355 novos integrantes estarão aptos para integrar o contingente. Destes, 261 são militares estaduais inativos oriundos de São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Uma nova turma com 94 militares das Forças Armadas tem previsão de se formar em 31 de março.
De acordo com denúncias de agentes mobilizados da Força Nacional, que preferem não se identificar, o curso de nivelamento dos novos integrantes está sendo realizado em menos tempo que o comum e os testes de aptidão física estão sendo feitos com menos rigor para que eles possam ser aprovados. Segundo eles, em alguns casos, quatro retestes chegaram a ser realizados. “A utilização de militares da reserva, especialmente das Forças Armadas, é promover um enfraquecimento da Força, que é uma tropa especializada. Prepará-los em um curso de três semanas é um desrespeito”, comenta um policial, ressaltando a ausência de um plano de saúde. Os agentes mobilizados estão sem assistência médica desde 2015, quando a Amil encerrou o contrato com o Ministério da Justiça. A pasta alega que “o processo de aquisição está em fase de pesquisa de mercado”.
O policial rodoviário federal Leonan Crouchoud Fernandes, estudioso da Força Nacional, explica que a Instrução de Nivelamento de Conhecimento da tropa dura, normalmente, três meses e é feita com policiais que estavam na ativa nos estados. “Cada um vem de um estado e tem suas particularidades. Quando você une esses policiais, você tem que fazer com que eles falem uma língua só. Essa instrução é para isso.
Saúde compromete atuação do militar
Na opinião do diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima, a principal questão é que a Força Nacional é um programa de pronto-emprego, que exige mobilização, plantões, longas viagens, atuação tática, ação em locais inóspitos e tudo isso exige fisicamente dos profissionais. “É extremamente preocupante mobilizar tropas mais velhas, que estavam inativas, para o operacional. A sobrecarga no policial é muito forte. E, na medida em que a Força não é uma polícia, é um programa, ela não tem estrutura para lidar com tamanha complexidade. Você coloca em risco a vida do policial e até da própria população”, comenta.
O major médico Bolini, do Hospital da Polícia Militar de São Paulo, conta que o policial tem 50% de chance a mais de morrer de doenças cardíacas do que a população em geral e, demora, em média, só sete anos na carreira, para ficar em situação pior de saúde do que outras profissões. Na opinião do médico, a maioria que passa para a reserva não têm condições de exercer policiamento por causa de problemas ortopédicos degenerativos — muito comuns entre militares — e por doenças como obesidade, diabetes, hipertensão e desequilíbrio hormonal.
“Os anos vão passando e eles desenvolvem hérnias de disco, lesões na coluna, artrose nos joelhos, quadril. O policial está exposto a condições adversas muito maiores e isso contribui para um quadro de saúde. Depois de um determinado tempo, ele vai perder a capacidade física de trabalhar”, diz Bolini. Durante visita a um centro de treinamento, o coronel Joviano Conceição Lima, diretor do departamento da Força Nacional, ressaltou a qualidade da tropa.
Convocação
De acordo com a determinação da MP 755/16, podem compor a Força Nacional de Segurança Pública:
- Militares estaduais inativos;
- Policiais civis aposentados da União, estados e do Distrito Federal;
- Servidores civis aposentados da União, estados, Distrito Federal e municípios;
- Militares da União que prestaram serviços temporários;
- Aproximadamente, 18 mil homens já foram capacitados para atuar na Força Nacional, mas somente cerca de 1,5 mil ficavam mobilizados para atuar exclusivamente na corporação. O prazo de mobilização é de 2 anos;
- Com a sanção da MP, em 19 de dezembro de 2017, 406 novos homens passaram a integrar a Força Nacional e a previsão, até o fim de março, é de que mais 449 tenham concluído o curso. A ideia é aumentar o contingente para 7 mil.
Fonte: Ministério da Justiça.